29/05/15


© Jim Goldberg | Open See

Open See tells the story of refugees, immigrants, and trafficked individuals journeying from their countries of origin to their new homes in Europe. This project addresses the struggle of immigrants to leave conditions where war, disease, and economic devastation prevail. It also addresses their struggle to adapt to new European cultures and the reciprocal struggle of those cultures to adapt to them in turn. My approach to creation and distribution requires personal, active engagement with the material from both artist and participant. With this work, I hope to shift attitudes, experience, and public perception. 

Jim Goldberg, 2011



Once upon a time there was a boat full of people looking for a new home...

28/05/15

© Jim Goldberg | Open See 


Para cá de mim e para lá de mim, antes e depois.
E entre mim eu, isto é, palavras,
formas indecisas
procurando um eixo que
lhes dê peso, um sentido capaz de conter
a sua inocência
uma voz (uma palavra) a que se prender
antes de se despedaçarem
contra tanto silêncio.
São elas, as tuas palavras, quem diz "eu";
se tiveres ouvidos suficientemente privados
podes escutar o seu coração 
pulsando sob a palavra da tua existência,
entre o para cá de ti e o para lá de ti.
Tu és aquilo que as tuas palavras ouvem, 
ouves o teu coração (as tuas palavras "o teu coração")?

Manuel António Pina

27/05/15


Agnes Obel | Aventine, 2013


Venho a este sítio sempre que posso.
-Costumavas vir sozinha?
-Nunca se está só num lugar.

Cesare Pavese

26/05/15

© Bernardo Martins


afinal a vida é relatável
é preciso é perder o medo de contar
o que se passa entre portas
onde se passa tudo o que deveras importa
e nalguns casos é só o que existe
pois a maior dos humanos
teve só a vida e pouca obra
mas ter só vida é uma imensidão de possibilidades
narradas ou não

é assim com as pessoas comuns
aquelas que constroem a história
que estão ali de sol a sol a dispor as pedras
do presente
umas sobre as outras


Rosa Oliveira, in Cinza

25/05/15

© Beatrice Jansen

Cultivar o amor pelos romances, desenvolver o hábito de ler romances indica um desejo de escapar à lógica cartesiana das dicotomias, um mundo em que corpo e espírito e imaginação são considerados totalmente opostos. Os romances são estruturas especiais que nos  permitem manter pensamentos contraditórios sem dificuldade e compreender diferentes pontos de vista simultaneamente.


Orhan Pamuk, in Senhor Pamuk, tudo isso aconteceu realmente consigo? - O romancista ingénuo e o sentimental

22/05/15

© Simon Norfolk


Queres ler o quê? O fogo veio e já foi, os teus olhos olham para as cinzas e podes fingir que chorar é uma outra forma de os olhos lerem. Mas não é.

Gonçalo M. Tavares, in Breves notas sobre ciência, o medo e as ligações

21/05/15

David Sylvian | Secrets of the Beehive, 1987



muitos são os que caem pelo caminho
poucos os que flutuam
...

Rosa Oliveira, in Cinza

20/05/15

© Rodney Graham | Welsh Oaks, 1998


estava ali desde sempre
e nós em paz porque existia
silencioso
atento
era um ramo pousado no ombro do tempo
agitou-se
estendeu um braço de dentro do braço
...

Rosa Oliveira, in Cinza

19/05/15

© Imogen Cunningham



Mas se o corpo é uma criação divina, atalhou Mário, então o corpo deverá ser imortal. Como é que concilias a divindade do homem com a sua mortalidade? Eu não creio na imortalidade, respondi, e creio, no entanto, que o ser absoluto se encarna no homem. É aparentemente uma contradição, mas a contradição é inerente ao homem. A sua natureza é uma resultante da totalidade universal e, por isso, ele pode conhecer em si mesmo a plenitude do ser.

António Ramos Rosa, in As nádegas não são neuróticas - Prosas seguidas de diálogos

15/05/15

© Margaret Bourke-White


De que estamos à espera? O Absoluto tem um ou dois pormenores tapados com aquilo que as palavras quotidianas chamariam de nódoas; como marcas da pancada num joelho que se recusam a sair - memória (com má cor) de um grande acontecimento. De que estamos, pois, à espera para as limparmos - a essas duas, não mais, nódoas que persistem? Esperamos, simplesmente, porque temos medo do que ficará depois de as limparmos. Sem pelo menos uma hipótese de fuga, o Absoluto jamais será suportável pelos humanos.

Gonçalo M. Tavares, in Breves notas sobre ciência, o medo, as ligações 

14/05/15

Granta Portugal | 5



Já morri duas vezes. Ou talvez mais. Sei umas quantas coisas sobre o assunto. Contudo, embotado, afásico, não sei como dizê-las. Também não é preciso. Já houve quem as dissesse por mim. Foram ditas mil vezes. Mil vezes mil. Inútil dizê-lo pior do que já outros antes. O mundo está cheio de redundância. Não há mal nenhum nisso, só cansaço.

Carlos Vaz Marques, in Editorial - Granta Portugal | 5

13/05/15


And Also The Trees | The Rag and Bone man, 2007



levantou-se da cama a pensar
«vou escrever um poema confessional»
e começou
...

Rosa Oliveira, in Cinza


12/05/15

© Charles Ray, 1973



"pensar num poeta é antes de mais pensar em três ou quatro imagens"

Luís Miguel Nava, in Ensaios reunidos

11/05/15

© Bernardo Martins


É aí, no mais íntimo, que nos apagamos, mas é também aí que o silêncio se incendeia, iluminando a realidade e unindo-nos a ela. É o nascimento de nós mesmos e o nascimento do mundo. Na suprema suavidade desta fusão, somos livres e unos, idênticos e puros.

António Ramos Rosa, in Mais silêncio mais sombra - Prosas seguidas de diálogos

09/05/15

© Imogen Cunningham | Cemetry, 1961


Mas, num dia frio, pede-se que a morte venha a temperaturas altas. Para compensar, alguém dirá.



Gonçalo M. Tavares, in Breves notas sobre ciência, o medo e as ligações

08/05/15

© Tamas Dezso


Ando de um lado para outro. É vital para mim. E muitas vezes ando de uns sítios para os outros cansado e com dificuldade, mas não consigo parar. O problema é o regresso, qualquer regresso é uma tragédia. A vida devia ter sido feita de partidas.

Rui Nunes, aqui.

07/05/15

© Matthias Heiderich


A natureza é uma coisa que toca, mas nas cidades todos se encontram convencidos de que a natureza é apenas uma coisa tocável.

Gonçalo M. Tavares, in Breves notas sobre ciência, o medo e as ligações

06/05/15


Joe Hisaishi | Summer, 1999


Na compota de framboesa
da firma respeitada
jazia uma formiga.
Fiquei tão agradada:
uma formiga, uma verdadeira formiga,
uma formiga não listada nos "ingredientes"
a provar que existe verão.

Margareta Ekstrom 

05/05/15

© Marcin Ryczek

A esta hora só se vêem mulheres. As mulheres não fumam
e não bebem, sabem simplesmente estar ao sol
e recebê-lo tépido, como se fossem frutos.

Cesare Pavese

04/05/15


Jörg A.Hoppe, Klaus Maeck & Heiko Lange | B-Movie, 2015


If you can remember the 80's, you weren't there!

01/05/15

© Steven Pippin

«Uma das minhas obrigações mais pesadas é não advertir o cansaço que me oprime, o peso enorme de todos os deveres que me são e me foram impostos, não ceder minimamente à necessidade de um pouco de distracção que a minha mente afadigada de tempos a tempos reclama. A única que posso conceder-me, quando me sinto excessivamente vencido pelo cansaço causado por um trabalho a que me entrego há muito tempo, é entregar-me a um novo trabalho.»

Luigi Pirandello, in Contos Escolhidos