07/07/16

E o vento levar-nos-á...

© Abbas Kiarostami

Pergunto-me, por exemplo, por que é que ler uma poesia excita a nossa imaginação e convida a participar na sua 'realização'. Não há dúvida que a poesia, embora incompleta, se cria para alcançar uma unidade. Quando a minha imaginação se mistura com ela, a poesia torna-se minha. A poesia nunca conta histórias. Oferece uma série de imagens, Representando-as na minha memória, apoderando-me do seu código, posso aceder ao seu mistério. 

Abbas Kiarostami, in Duas ou três coisas que sei de mim 

06/07/16

© Abbas Kiarostami - Roads, 1989
Com o passar do tempo, a minha atracção por muitas coisas diminui cada vez mais. Quero dizer que já não tenho, como antes, o mesmo grau de preocupação com os meus filhos, que o meu desejo de comida é menos intenso, que o desejo de ver os amigos é menor. O que substituiu tudo isso e que se torna cada vez mais forte, embora não me atraísse na minha juventude e não percebesse nada dele, é o desejo de estar na natureza, o desejo de contemplar o céu, o Outono, as quatro estações. E muitas vezes disse aos meus amigos: esta é a única coisa que me faz recear a morte. Não o medo de morrer, mas a ideia de perder a natureza que ainda tenho, a possibilidade de contemplar no mundo. Porque o único amor que aumenta de intensidade cada dia, enquanto os outros amores perdem força, é o amor pela natureza.

Abbas Kiarostami, in Duas ou três coisas que sei de mim 


05/07/16

um problema de desassossego...

© Abbas Kiarostami | Roads of Kiarostami, 2006

Fiz muitas coisas ao longo da minha vida e utilizei vários instrumentos: a pintura, o grafismo, a publicidade, a televisão, o cinema, a fotografia e o vídeo, a poesia. Até teatro fiz. Aliás, poderia acrescentar mais coisas a esta lista. Por exemplo, acerta altura da minha existência fui carpinteiro, quando decidi construir sozinho os móveis da minha casa, disso pouca gente sabe. Acho que tudo isso tem a ver com um problema de desassossego...

Abbas Kiarostami, in Duas ou três coisas que sei de mim 

© Sholeh Zahraei - Abbas Kiarostami


Temos um ditado persa que diz, quando alguém olha com verdadeira intensidade: 
"Tinha dois olhos e pediu mais dois emprestados."

Abbas Kiarostami
in Duas ou três coisas que sei de mim