30/04/12

'to carry a book...'

© English Heritage | Holland House Library | Londres, 1940


"To carry a book in your pocket or in your bag, particulary in time of sadness, is to be in possession of another world, a world that can bring you happiness.” Orhan Pamuk 

27/04/12

a nossa vida uniu-se



Ridley Scott | Blade Runner, 1982



"Acordei com esta cabeça de mármore nas mãos
que extenua os meus cotovelos e não sei onde
pousá-la.
Ela tombava no sonho enquanto eu saía do sonho
a nossa vida uniu-se e será muito difícil separar-se
de novo."

Yorgos Seferis 

26/04/12

outra vez os livros



William Joyce, Brandon Oldenburg | 2011

"Inspired in equal measures, by Hurricane Katrina, Buster Keaton, The Wizard of Oz, and a love for books, "Morris Lessmore" is a story of people who devote their lives to books and books who return the favor. The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore is a poignant, humorous allegory about the curative powers of story. Using a variety of techniques (miniatures, computer animation, 2D animation), award-winning author/illustrator William Joyce and Co-director Brandon Oldenburg present a hybrid style of animation that harkens back to silent films and M-G-M Technicolor musicals. "Morris Lessmore" is old-fashioned and cutting edge at the same time.",  aqui

24/04/12

ainda os livros


© Miller Lagos | Book Iglo - Home | Magnan Metz Gallery, Nova Iorque, 2011



"To carry a book in your pocket or in your bag, particulary in time of sadness, is to be in possession of another world, a world that can bring you happiness.”

Orhan Pamuk


23/04/12

os livros

© Matej Krén | The Book Cell Project
F.C.G. - Centro de Arte Moderna, 2006


"Um livro não escrito é mais do que um vazio. Acompanha a obra que fizemos como uma sombra activa, irónica e nostálgica ao mesmo tempo. É uma das vidas que poderíamos ter vivido, uma das viagens que não fizemos. A filosofia ensina que a negação pode ser determinante. É algo mais do que uma negação da possibilidade. A privação tem consequências que não podemos antecipar ou avaliar ao certo. O livro não escrito é o que poderia ter feito a diferença. Que nos poderia ter permitido falhar melhor. Ou talvez não." George Steiner in, Os Livros que não escrevi

20/04/12

se pudéssemos falar

© J.B. | Solitary tree at the theatre of Dodoni, Epirus, Greece, 2011

"Acordámos cedo e alugámos um carro para ir a Epidauro. O dia começou com uma paz sublime. Era a primeira vez que vislumbrava realmente o Peloponesco. E não era bem um vislumbre, mas uma ampla perspectiva que se abria para um mundo silencioso e pacífico, um mundo semelhante ao que o homem herdará um dia quando deixar de se entregar ao homícidio e à rapinagem.
(...)
É pura perfeição, como a música de Mozart. Atrevo-me até a dizer que há mais de Mozart aqui do que em qualquer outro lugar do mundo. A estrada para Epidauro é como a estrada da criação. Deixa-se procurar. Calamo-nos, emudecidos pela quietude dos princípios misteriosos. Se pudéssemos falar, seríamos melodiosos. Aqui nada há que se possa colher, entesourar ou acumular: há apenas um derrubar das muralhas que aprisionam o espírito."

Henry Miller in, O colosso de Maroussi

19/04/12

νερό

© Joshua Benoliel


"Foi a primeira palavra grega que aprendi: nero (água), e que bela palavra é."

Henry Miller in, O colosso de Maroussi

18/04/12

as palavras

 © Interior of the Public Library of Cincinnati and Hamilton County “Old Main” Building | J.W. McLaughlin, Architect | photographer unknown, 1874


"A palavra liga a marca visível à coisa invisível, à coisa ausente, à coisa desejada ou temida, como uma frágil ponte improvisada sobre o abismo. Por isso o uso correcto da linguagem para mim é o que permite aproximar-nos das coisas (presentes ou ausentes) com discrição, atenção e cautela, respeitando o que as coisas (presentes ou ausentes) comunicam sem palavras."


Italo Calvino in, seis propostas para o próximo milénio
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]



17/04/12

em direcção ao Sul



M83 | Saturdays=Youth, 2008

«Nasci em finais de época moderna, pouco antes de iniciar-se o retorno à Idade Média, sob o signo de Sagitário e a benévola influência de Mercúrio. O meu nascimento teve lugar num quente dia de Julho, à primeira hora do crepúsculo, e toda a vida gostei, e desejei inconscientemente, a temperatura daquela hora. Chorei-a dolorosamente quando me faltou. Nunca pude viver em países frios, e todas as viagens que fiz da minha livre vontade foram em direcção ao Sul.»

Hermann Hesse, 1972

16/04/12

mesmo com as palavras erradas



"Há mil formas de falar, e as palavras não ajudam se o espírito estiver ausente. Eu e o Karamenaios tínhamos ânsia de falar. A mim, pouca diferença fazia se falávamos da guerra ou sobre garfos e facas. Por vezes, descobríamos que uma dada palavra ou expressão, que andávamos a usar há vários dias, ele em inglês ou eu em grego, tinha um significado completamente diferente do que pensávamos. Não fazia diferença. Entendíamo-nos mesmo com as palavras erradas. Eu podia aprender cinco palavras novas numa noite e esquecer seis ou oito enquanto dormia. O mais importante era o afectuoso aperto de mãos, o brilho nos olhos, as uvas que devorávamos em conjunto, o copo que levávamos aos lábios em sinal de amizade."
 
Henry Miller in, O colosso de Maroussi

13/04/12

escrevo-te

© Joshua Benoliel
© Joshua Benoliel
© Joshua Benoliel



(a carta da paixão)
Esta mão que escreve a ardente melancolia
da idade
é a mesma que se move entre as nascentes da cabeça,
que à imagem do mundo aberta de têmpora
a têmpora
ateia a sumptuosidade do coração.

(...)

A idade que escrevo

escreve-se
num braço fincado em ti, uma veia
dentro
da tua árvore.


Herberto Helder in, Photomaton & Vox, 1979

11/04/12

inventar poemas

© Joshua Benoliel


Ao atravessar a fronteira
entre
beleza e banalidade
sobresai um homem
cansado de inventar poemas.

Não tem nada a declarar
com a excepção de alguma
trivialidade inútil.

 Daniel Hevier

10/04/12

os teus olhos



Talk Talk | Spirit of Eden, 1988


Entra pela escuridão
e limpa a fuligem da lâmpada.

Para que as pessoas na estrada
possam entrever uma luz
em teus olhos habitados.


Hans Børli 

09/04/12

fora de si

© Joshua Benoliel
O regresso

Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar,
o passado no passado, o presente no presente,
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.

Entra entao pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,
cidades, estações do ano.
E como agora por fim um pão primeiro
sem saber de palavras estrangeiras na boca.

Manuel António Pina



07/04/12

rápido demais


Miguel Gomes | Tabu, 2012


História de José Salmasius

José Salmasius era um homem bafejado pela sorte. Quando tinha fome bastava pensar em comida para que um bolo de arroz voasse directa e literalmente para dentro da sua boca. Vou escrever esta frase de novo: quando tinha fome bastava pensar em comida para que um bolo de arroz voasse directa e literalmente para dentro da sua boca. E isto é apenas um esboço daquilo que de facto sucedia, porque normalmente voava para dentro da sua boca toda a espécie de excelentes assados, cozidos, grelhados, estufados, etc.


Sim, concordo que isto não tem muito a ver com literatura, mas a culpa não é minha; limito-me a contar a verdade.

Um dia, de repente, também Salmasius desatou a voar. E voou, voou sem parar. Do outro lado do mundo, um crocodilo bafejado pela sorte estava a pensar em comida. Salmasius quase não sentiu nada. Foi tudo rápido demais.

Rui Manuel Amaral

06/04/12

às vezes



Active Child | You Are All I See, 2011


"Às vezes, é pela forma como morre que um homem mostra que era digno de viver."
Francis Ponge  


05/04/12

amo os primeiros momentos da manhã

Takeshi Kitano | Dolls, 2002


Amo os primeiros momentos da manhã
aqueles momentos que ainda ninguém usou
tão limpos
que deves lavar os pés antes de os habitares
aqueles momentos que cheiram como pétalas de rosa e erva cortada
e encharcam a tua roupa com orvalho

Irás chocar com segredos
descobrir milagres cobertos habitualmente pelo fumo dos autocarros
escutarás puros ecos sussurros e corridas precipitadas

Amo os primeiros momentos da manhã
quando o sol tem um só olho aberto
e o dia é como uma camisa lavada
sem vincos e pronta a usar
aqueles momentos que prendem a tua atenção
por serem tão sossegados


Coral Rumble

04/04/12

o infinitesimal do infinitamente pequeno


© Eikoh Hosoe


"Em vez de lhes contar como escrevi o que escrevi, seria mais interessante falar dos problemas que ainda não resolvi, que não sei como hei-de resolver e o que me levarão a escrever... Ás vezes tento concentrar-me na história que desejaria escrever e vejo que o que me interessa é outra coisa, ou seja, não uma coisa precisa mas tudo o que fica excluído do que eu deveria escrever; a relação entre esse argumento determinado e todas as suas possíveis variáveis e alternativas, todos os acontecimentos que o tempo e o espaço podem conter. É uma obsessão devoradora, destrutiva, que chega para me bloquear. Para combater tento limitar o campo do que devo dizer, e depois dividi-lo em campos ainda mais limitados, e depois subdividi-los de novo, e assim por diante. E então sou tomado por outra vertigem, a do pormenor do pormenor do pormenor, sou sugado pelo infinitesimal, do infinitamente pequeno, tal como antes me dispersava no infinitamente vasto."

Italo Calvino in, seis propostas para o próximo milénio
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

03/04/12



Divine Comedy | cover "Make it easy on yourself"

«Eu, como qualquer outro poeta imagino, vivo materialmente o que escrevo. Quer dizer, não há nenhuma emoção ou pensamento nos meus poemas que eu não tenha realmente sentido ou pensado.» António Franco Alexandre

02/04/12