30/06/13

© Maria | Junho, 2013

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia Mello Breyner Andresen

29/06/13

© Henry Miller Memorial Library | Big Sur

«Se não souber para onde vai, todas as estradas o levarão lá.»*

Há dias em que tudo me parece assim tão simples e claro.

Henry Miller, in O Big Sur e as laranjas de Jerónimo Bosch

*M.N. Chatterjee, in Out of Confusion

28/06/13

© Christophe Kutner 


"E é da obstinação sem tréguas que a poesia exige que nasce o «obstinado rigor» do poema. O verso é denso, tenso como um arco, exactamente dito, porque os dias foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos. O equilíbrio das palavras entre si é o equilíbrio dos momentos entre si." 

Sophia Mello Breyner Andresen, in Arte Poética II



© Maria | Junho, 2013


"That’s the poem, and that’s all I’m going to say about it."

Frederick Seidel

27/06/13

© Fernando | Junho, 2013

Até que a luz me trespasse
e dobre o tempo.

Tomas Tranströmer
© Maria | Junho, 2013


De um dos teus pátios ter olhado
as antigas estrelas,
e do banco da sombra ter olhado
essas luzes dispersas
que a minha ignorância não aprendeu a nomear
nem a ordenar em constelações,
ter sentido o círculo da água
na secreta cisterna,
o cheiro do jasmim, da madressilva,
o silêncio do pássaro a dormir,
o arco do saguão, a humidade
- essas coisas talvez sejam o poema.


Jorge Luís Borges

Sophie Hutchings | Night Sky, 2012 

26/06/13

© Fernando | Junho, 2013

"O grande mistério não é o universo."

in, O belo e a consolação - Edward Witten
aqui.
© Jacques Henri Lartigue

Imaginei muitas vezes que os olhares
sobrevivem ao acto de ver

Valerio Magrelli 

© Gerhard Richter, 1993


"Sobre o vestido ela tem um corpo..."

Blaise Cendrars

25/06/13

© Fernando | Junho, 2013

"(...) sim, sempre com a minha mão no teu ombro, agarrados um ao outro, apoiando-nos um ao outro, fugimos, como dois amantes solitários e desesperados neste universo aterrador e cheio de fealdade, que só o amor permite enfrentar, e pronto, deixamos tudo para trás de nós, caminhamos sob as árvores, pelas ruas vazias, silenciosas e melancólicas, olhamos para as luzes coloridas dos restaurantes e dos cafés, ao longe, e falamos, com um entendimento mútuo vindo do fundo do coração, como dois apaixonados de quem o mundo inveja não só o amor mas também a profunda amizade (...)".

Orhan Pamuk, in A casa do silêncio

© Daniel Blaufuks | O Ofício de viver, 2010

mais 
vidro azul
para ouvir

24/06/13

© Maria | Junho, 2013
© Maria | Junho, 2013



"sabe-se que
diante do mar, todos os caminhos levam ao silêncio"

Luís Felício

23/06/13

© Maria | Junho, 2013
© Maria | Junho, 2013

...
Sou eu que caminho para ti,
diz a mulher.
...


Jaime Rocha

22/06/13


© Maria | Junho, 2013


És aquele que procuro... (como se fora um sonho),
Tenho a certeza que, nalguma parte, alegremente, vivi contigo,
Recordo, ao nos cruzarmos, tudo, fluido, afectuoso, casto, calmo,

Comi contigo, dormi contigo, o teu corpo não ficou só teu, nem o meu corpo só meu.
Deste-me o prazer dos teus olhos, do rosto, da carne ao nos cruzarmos

Não me cumpre falar-te, eu sou quem existe para pensar em ti...
Eu sou quem deve esperar, seguro de voltar a encontrar-te,
Eu sou quem deve cuidar de te não perder para sempre.

Walt Whitman

21/06/13

© Peter Gowland | Henry Miller, 1975

"Não, nunca estamos sozinhos. Mas temos de viver sozinhos para sabermos como isso é verdade.
A primeira vez que soube o que era estar sozinho, e gostar de o estar, foi na ilha de Corfu. A segunda vez que aconteceu, apesar de muito dizer que não estou sozinho, foi aqui no Big Sur.
(..)
Só quando estamos sozinhos é que a plenitude e riqueza de vida se revela. Ao simplificarmos a vida, tudo adquire um significado até então desconhecido."

Henry Miller, in O Big Sur e as laranjas de Jerónimo Bosch

20/06/13

© Joseph Plotz | Big Sur


"Oferecer simplesmente o que o Big Sur me ensinou não seria pequena dádiva. O Big Sur, mas não os Estados Unidos. Pois, apesar de o Big Sur pertencer aos Estados Unidos - e é profundamente americano -, o que o distingue é ser o que o nome «Estados Unidos» significa. Se tivesse de escolher um elemento do temperamento americano que tem sido exaltado aqui, escolheria «bondade». É um hábito antigo, aqui na costa, ao levantar o copo para fazer um brinde, dizer: «À bondade!» Nunca ouvi esta expressão noutro sítio."

Henry Miller, in O Big Sur e as laranjas de Jerónimo Bosch
© Wallace Berman | Henry e Valentine Miller, Big Sur, 1954


"Por cada momento maravilhoso que tive na infância, eles devem ter um dúzia de momentos incomparavelmente mais maravilhosos. Pois não só tiveram, tal como eu, companheiros de brincadeira, jogos, aventuras misteriosas, mas também céus de puro azul e paredes cerradas de nevoeiro; montes que no inverno eram verde-esmeralda e no verão montanha após montanha de puro ouro. Tiveram muito mais pois havia o silêncio insondável da floresta, a imensidão avassaladora do Pacífico, dias de sol intenso e noites salpicadas de estrelas e: «Oh, papá, anda depressa, a Lua está deitada no lago!»"

Henry Miller, in O Big Sur e as laranjas de Jerónimo Bosch

19/06/13

© aqui | Big Sur


"A forma e o contorno dos montes e montanhas são, na maioria das vezes, femininos; em força e vitalidade, masculinos. Parecem muito antigos, especialmente de madrugada; porém, como sabemos, são recentes. Felizmente, os animais modificaram-nos mais do que os homens. E o vento, a chuva, o sol e o luar ainda os modificaram mais. O homem só há pouco os conhece, o que talvez explique o excelente estado de conservação em que se encontram.
Nos dias em que, pouco depois do nascer do Sol, o nevoeiro faz desaparecer a estrada que se estende lá em baixo, sou presenteado com um espectáculo raro."

Henry Miller, in O Big Sur e as laranjas de Jerónimo Bosch

18/06/13

© Edward Weston | Big Sur


"Muitas vezes estou tão afastado de tudo que a única forma que tenho de «regressar» é ver o mundo pelos olhos dos meus filhos. Começo sempre por me recordar da infância gloriosa que tive, numa parte miserável de Brooklyn chamada Williamsburg. (...) Foi o primeiro «Paraíso» que conheci, no velho bairro. 
(...)
Mas agora, agora quando vejo os pequenos a brincar no pátio, quando os vejo perfilados com o azul do Pacífico pontilhado de ondas brancas, quando olho para os milhafres enormes e assustadores que pairam preguiçosamente no céu, caindo a pique, descrevendo círculos contínuos, quando vejo o salgueiro a ondular gentilmente, os seus ramos compridos e frágeis pendendo cada vez mais baixos, cada vez mais verdes e delicados, quando ouço rãs a coaxar no lago ou um pássaro a cantar nos arbustos, quando subitamente me viro e reparo num limão que amadurece numa árvore pequena ou reparo na camélia que começa a florir, vejo os meus filhos diante de um fundo eterno (...) e sei que nunca esquecerão, nunca abandonarão este sítio onde nasceram e foram criados."

Henry Miller, in O Big Sur e as laranjas de Jerónimo Bosch

17/06/13

© Oliver Maxwell Kupper | Big Sur

"Faz doze anos em Fevereiro que cheguei ao Big Sur. Chovia copiosamente nesse dia.
(...)
Mas talvez deva começar por explicar onde se localiza a região do Big Sur. Esta é limitada a norte pelo rio Little Sur (Malpaso CreeK)  e estende-se para sul até Lucia, que, tal como o Big Sur  é apenas um ponto no mapa.
(...)
É frequente, quando avanço pelos caminhos que serpenteiam pelos montes, erguer-me para abarcar a glória e a grandiosidade que se estendem pelo horizonte. É frequente, quando as nuvens se empilham a norte e no mar agitado as ondas de crista branca se erguem, dizer para mim mesmo: «Esta é a Califórnia sonhada pelos homens há muitos, muitos anos...»."

Henry Miller, in O Big Sur e as laranjas de Jerónimo Bosch

16/06/13


© Ryan McGinley
© Ryan McGinley

"Gozemos intensamente a companhia dos nossos amigos, até porque não podemos saber por quanto tempo o faremos. Pensemos também quantas vezes os deixámos para partir em longas viagens, quantas vezes estivemos sem os ver embora morando na mesma terra: compreenderemos deste modo que, mesmo estando eles vivos, não aproveitámos a sua companhia a maior parte do tempo."

Séneca, in Cartas a Lucílio

15/06/13

© Jacques Henri Lartigue

"...gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol." 

Eugénio de Andrade, in Ensaios reunidos de Luís Miguel Nava

14/06/13

© Lothar Rubelt

"Porque tu és imagem
falo de ti verão como se fosses
uma fotografia ou o seu real"

Gastão Cruz, in Observação do Verão

13/06/13

© Jacques Henri Lartigue
© Jacques Henri Lartigue
© Jacques Henri Lartigue

"duração dos
troncos e dos ramos, vida
contemporânea
das que passaram"


Gastão Cruz, in Observação do Verão

12/06/13

© Raquel Caiano
© Raquel Caiano 

"Para o Senhor Valéry férias são os momentos em que ninguém lhe pode exigir decisões. O difícil é encontrar a casa ideal para descansar." 

Gonçalo M. Tavares, in "A casa de férias do Sr. Valéry"

11/06/13

© Wes Anderson | Moonrise Kingdom, 2012

10/06/13


Crysta Bell | Musicbox - Lisboa, 09.06.2013
Crysta Bell | Musicbox - Lisboa, 09.06.2013

"música para uma imensa minoria."
XFM

09/06/13

© LIFE magazine | Glenn Gould, 1956
© Martine Franck, 1972

08/06/13

Disco 2000 - Pulp by Nick Cave |  Bad Cover Version, 2002


Para além disso, nada ocorreu nessa manhã –
uma canção na rádio,
um carro assobiando na estrada lá fora –

e eu simplesmente pensando...

Billy Collins
 © Inge Morath | The Mask Series with Saul Steinberg, 1962



"E, no entanto, como era bela a neve a cair!"

07/06/13

© Public Library of Cincinnati and Hamilton County, 1874


"Escrevo porque tenho uma crença pueril na imortalidade das bibliotecas e na forma como os meus livros assentam na prateleira. Escrevo porque é entusiasmante transformar todas as belezas e riquezas do mundo em palavras. Escrevo para ser feliz." 

Orhan Pamuk, in Outras cores - ensaios sobre a vida, a arte, os livros e as cidades


"Cada sítio é um filão. Basta andar por aí. Não ter pressa, estar sentado numa casa de chá e observar quem passa, pôr-se a um canto do mercado, ir cortar o cabelo, e depois seguir o fio da meada que pode começar numa palavra, num encontro, no amigo do amigo de uma pessoa com quem acabámos de nos encontrar, e o lugar mais insípido, mais insignificante do planeta, transforma-se num espelho do mundo, numa janela aberta para a vida, num teatro da humanidade diante do qual poderíamos deter-nos sem necessidade de ir a mais sítio nenhum. O filão está exactamente onde nós estamos. Basta cavar." 

Tiziano Terzani, in Disse-me um Adivinho - Em Viagem Pelos Mistérios do Extremo Oriente
© Yamamoto Masao川 = Kawa = Flow 

Viajar é muito útil, faz trabalhar a
imaginação. O resto não passa de
decepções e fadigas. A nossa viagem é
inteiramente imaginária. Daí a sua
força.
...
Aliás, à primeira vista todos podem
fazer o mesmo. Basta fechar os olhos.

É do outro lado da vida.

Louis-Ferdinand Céline, in Viagem ao fim da noite

06/06/13

© Elias Tahan | Chrysta Bell, 2013

Angel Star

© Neil Craver

Vidro Azul
para ouvir
aqui.
© Paul Kohl | An Indian Holiday - Wandering in Fertile Fields, 2013

"Paul Kohl's photographs reflect all the nuances of rasa. Rasa is the Indian philosophical theory that determines aesthetic response within the arts: dance, music, painting, sculpture, film, photography can all be assessed and accessed through rasa. 

(...) 
In these photographs, Paul Kohl has invited the rasika to experience the images of India in this truth: not the process of exotic colorful 'othering', but thourgh the more subtle tap on the doors of perception, Paul has invited you into his view of the sensuality, absurdity, sadness, violence, heroics, fearsomeness, revulsion, marvelousness and peace of India." 

Mary Storm, in An Indian Holiday - Wandering in Fertile Fields

05/06/13

© Yari Beno

Tememos demasiadas doenças incuráveis,
terramotos, viagens repentinas,
telegramas atrasados – e um olhar, cravado
na nuca –


mas a seu tempo tudo isso vem,
sem grande pressa – e sem atrasos -,
exactamente quando chega a hora,

nem sempre de forma definitiva,

suave e silenciosamente,
sem deixar pegadas na paisagem
movediça

como a hora de partida do comboio
ou uma ida ao cinema


Ryszard Krynicki
© Bernardo Martins | "the liveliest house in the street" - Lisboa, 2013

"The real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes but in having new eyes." Marcel Proust
Michael Winterbottom | The Trip, 2010

Rob Brydon: “It’s 2010 [2013!]. Everything’s been done before. All you can do is do something that someone’s done before but do it better or different.”, in The Trip