30/11/11

para ti: tu e eu


"tu e eu não somos pretensiosos. Nunca podemos nascer o suficiente. Somos seres humanos; para quem o nascimento é um mistério supremamente bem-vindo, o mistério de crescer: o mistério que acontece apenas e sempre que somos leais a nós próprios... A vida, para o nós eterno, é agora..." e.e.cummings in, eu:seis inconferências [Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

29/11/11

abrir aspas segurança fecha aspas

© Yves Klein, 1960
"Un homme dans l'espace ! Le peintre de l'espace se jette dans le vide !"


"Tal como me calhou a ventura miraculosa de ter um verdadeiro pai e uma verdadeira mãe, e uma casa que a verdade do seu amor tornou alegre, assim - quando estendi os braços para fora deste amor e desta alegria - tive a sorte maravilhosa de tocar e agarrar um mundo insurrecto e lutador; um mundo imprudente, cheio de curiosidade da própria vida; um mundo vívido e violento acolhendo todos os desafios; um mundo digno de ser odiado e adorado e disputado e perdoado: em resumo, um mundo que era um mundo. Este mundo interiormente imortal da minha adolescência recua até até às suas raízes sempre que, hoje em dia, vejo pessoas dotadas de pernas rastejando sobre as suas próprias faces atrás de abrir aspas segurança fecha aspas. «Segurança?» encho-me de espanto «o que é isso? Uma coisa negativa, nãomorta, suspeita e suspeitadora; uma avareza e uma abstenção; a maldade submissa de uma retirada; uma complacência numerável e uma cobardia inumerável. Quem estará "seguro"? Todo e qualquer escravo. Nenhum espírito livre alguma vez sonhou com "segurança" - ou, se o fez, riu-se; e viveu para envergonhar o seu sonho."

e.e.cummings in, eu:seis inconferências
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

28/11/11

Amavam-se

Restless, 2011 | Gus Van Sant


"pois estes dois seres humanos maravilhosos amavam-se,...
 amavam-se um ao outro mais do que a si próprios -"

e.e.cummings in, eu:seis inconferências
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

27/11/11

Aldina Duarte

"Cuido dele [do fado] diariamente, quer cantando na casa de fados, quer ouvindo discos, é um amor tão a sério que acumula com a paixão que se reacende” Aldina Duarte

24/11/11

menos do que o inconveniente


"Permitam-me cordialmente avisar, na abertura destas supostas conferências, que não tenho a mais remota intenção de me fazer passar por conferencista. Conferenciar é presumivelmente uma forma de ensino; e presumivelmente um professor é alguém que sabe. Eu nunca soube e continuo a não saber. O que sempre me fascinou não foi ensinar, mas aprender; e garanto-vos que se a aceitação da cadeira Charles Eliot Norton não se tivesse misturado com a expectativa de aprender muito, eu estaria agora noutro lugar. Deixem-me também garantir-vos que me sinto extremamente contente por aqui estar; e que de todo o coração espero que não venham a sentir-se extremamente arrependidos.

Desde o tempo tempo em que muitos de vocês ainda não existiam, tenho andado a aprender e a reaprender, como escritor e como pinto, o significado daquelas máximas imemoriais «o que cura um mato outro» e «quem faz o que deve a mais não é obrigado». Ora - como inconferencista - sou por sorte confrotado com aquele igualmente antigo, mas muito menos austero, dictum «a palavras loucas, orelhas moucas». Pois enquanto um conferencista genuíno tem de obedecer às regras da conveniência mental e vestir as suas idiossincrasias pessoais de generalidades colectivamente aceitáveis, um ignoramus autêntico permanece de todo inconvenientemente livre para falar como lhe apeteça. Esta perspectiva anima-me, porque prezo a liberdade; e nunca esperei que a liberdade fosse menos do que o inconveniente."

e.e.cummings in, eu:seis inconferências
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

23/11/11

Agora

© Maria | Fernando

(eu que morri estou vivo de novo hoje,
e este é o dia do aniversário do sol;este é o dia
do aniversário da vida e do amor e asas:e da alegre
grandiosa terra ilimitavelmente acontecendo)
(agora os ouvidos dos meus ouvidos acordam e
agora os olhos dos meus olhos estão abertos)


e.e.cummings

22/11/11

Depois



© Sam Taylor-Wood | "Crying Men" series, Tim Roth

 
"Um homem não conhece a sua verdadeira ambição,
até passar por uma tragédia forte,
uma tragédia individual. Só se sabe olhar, depois de se aprender."

Gonçalo M. Tavares


20/11/11

Aldina Duarte


"Desabafo: ninguém poderá dizer de mim a cantar pior do que eu já disse a mim mesma, quando me corre mal. A dor faz parte da criação também pela exposição pública do desastre inevitável. Haja Deus para compensar a má memória de quem nos ouve num mau momento com o prazer de quando corre tudo bem." Aldina Duarte

19/11/11

Nunca


e "o mundo nunca está completo:
faltam pessoas que nos morreram."


Gonçalo M. Tavares

17/11/11

Respira

© Sam Taylor-Wood | "Crying Men" series, Jude Law



"A morte não é para nós natural, deixa-nos perplexos. Mas os asiáticos incluíram-na nas suas religiões como o nada, o verdadeiro ser, a verdadeira força. Aguardam a morte sem ansiedade - já a nossa vida não é concebível sem esta ansiedade, que é o seu verdadeiro elemento. Arrancados à nossa esfera, arrancados às nossas formas famliares de consolo (um rosto que respira, um coração que bate, os cambiantes de uma paisagem amena), temos por fim de nos abandonar aos ventos fortes da montanha, que rasgam e deixam em farrapos as nossas últimas esperanças." Annemarie Schwarzenbach in, Morte na Pérsia