29/11/11

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© Yves Klein, 1960
"Un homme dans l'espace ! Le peintre de l'espace se jette dans le vide !"


"Tal como me calhou a ventura miraculosa de ter um verdadeiro pai e uma verdadeira mãe, e uma casa que a verdade do seu amor tornou alegre, assim - quando estendi os braços para fora deste amor e desta alegria - tive a sorte maravilhosa de tocar e agarrar um mundo insurrecto e lutador; um mundo imprudente, cheio de curiosidade da própria vida; um mundo vívido e violento acolhendo todos os desafios; um mundo digno de ser odiado e adorado e disputado e perdoado: em resumo, um mundo que era um mundo. Este mundo interiormente imortal da minha adolescência recua até até às suas raízes sempre que, hoje em dia, vejo pessoas dotadas de pernas rastejando sobre as suas próprias faces atrás de abrir aspas segurança fecha aspas. «Segurança?» encho-me de espanto «o que é isso? Uma coisa negativa, nãomorta, suspeita e suspeitadora; uma avareza e uma abstenção; a maldade submissa de uma retirada; uma complacência numerável e uma cobardia inumerável. Quem estará "seguro"? Todo e qualquer escravo. Nenhum espírito livre alguma vez sonhou com "segurança" - ou, se o fez, riu-se; e viveu para envergonhar o seu sonho."

e.e.cummings in, eu:seis inconferências
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

2 comentários:

  1. Céu azul de meio-dia de primavera, quantas vezes escureceu de repente, a súbita desintegração do que chamam segurança? Pelo menos uma vez e tremo ao pensar nisso. Vi nitidamente esta repentina escuridão. Tudo o que desaparece olha por momentos o céu.

    Beijo-te,

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  2. "Amar é despenhar-se
    cair infindavelmente,
    o nosso par
    é o nosso abismo...

    amar é duplo
    e sempre dois

    dois é querer continuar o mesmo
    e já ser outro, e outra

    amar é ter olhos nas pontas dos dedos
    tocar no nó em que se enlaçam

    quietude e movimento

    Quero-te...

    A tarde foi a pique
    lâmpadas e reflectores
    devassam a noite

    com palavras de água, chama, ar e terra
    inventamos o jardim dos olhares

    diante de nós
    está o mundo." Octávio Paz

    E eu contigo.
    Beijo-te,

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