31/07/14

© Nina Leen | Barbara Laage, 1946


"Os livros conhecem-nos, mas não é da sua natureza deixarem-se conhecer completamente."

Dulce Maria Cardoso, in A Biblioteca - Tudo são histórias de amor

My heart could be a stone, it's a sponge, it's a balloon...


Yann Tiersen | Infinity, 2014


...it's a lonely rock with a fiery tail falling in your atmosphere, 
burning up and breaking down...

30/07/14

© Artur Pastor - Cais das Colunas, Lisboa 1950-69

"Há poucos fotógrafos em Portugal com uma carreira tão longa como a de Artur Pastor (Alter do Chão, 1922 – Lisboa, 1999). Andou de máquina ao peito durante mais de 60 anos. Mas a longevidade da sua actividade enquanto fotógrafo está longe de ser o principal atributo que deixou na fotografia portuguesa. As marcas de uma procura incessante pela perfeição da composição ou enquadramento estão bem presentes nas salas do Arquivo Municipal de Lisboa." [até 31 de Agosto]

© Iveta Vaivode

29/07/14

© Bernardo Martins, 2014

sim, corpos, gestos: o odor deslocado no sopro

Luís Felício

28/07/14

© Walker Evans | Floyd Burroughs, 1936

"Concentremo-nos no olhar rasgado, ao mesmo tempo próximo e tão distante. Poderíamos confundi-lo com um modelo masculino da Ralph Lauren, tal é a americanidade da sua beleza viril, cansada mas indómita. Floyd Burroughs, o homem semianalfabeto que nos contempla, nunca imaginaria decerto que o seu retrato integra actualmente o American Memory Project da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos." 

António Araújo, aqui.

27/07/14

a realidade está mal feita


Mario Vargas Llosa: A literatura não é apenas uma fonte maravilhosa de prazer. Cumpre, além disso, uma função social e histórica de primeira ordem que é a de desenvolver nos leitores um espírito crítico. Depois de termos lido uma grande obra literária, um grande romance, um grande poema, um ensaio, regressamos ao mundo real convencidos de que a realidade está mal feita, que está muito aquém daquela ficção que somos capazes de inventar através da fantasia e da palavra. Isso faz-nos olhar para a nossa envolvência social, cultural e política com olhos muito críticos. E creio que essa é a razão pela qual a literatura, ao longo de toda a História, foi sempre vista com muita desconfiança e com muito temor pelos governos autoritários, pelas ditaduras, por todos os regimes que, no fundo, tratam de controlar a vida e querem demonstrar aos cidadãos que o mundo está bem feito. É essa a razão da censura. E efectivamente a literatura é um perigo para esse tipo de regimes porque tem sempre uma atitude muito crítica face ao mundo tal como ele é.

Susana Vera/Reuters: Mas que pode hoje a literatura contra a indiferença e o conformismo dos cidadãos, nomeadamente dos jovens?

Mario Vargas Llosa: O problema é que a literatura hoje em dia vive uma crise muito profunda, converteu-se sobretudo em entretenimento, perdeu a sua pugnacidade, a sua beligerância crítica, e busca sobretudo entreter. E o entretimento também é uma espécie de adormecimento, uma maneira de desmobilizar criticamente os cidadãos. Creio que essa crise da cultura, que é muito profunda na minha opinião, pode ter um efeito gravíssimo na vigência da democracia e da liberdade. Pela primeira vez na história, o pesadelo de [George] Orwell, de uma ditadura tecnológica, com um absoluto controlo sobre a vida das pessoas, um mundo de cidadãos convertidos em autómatos, já é possível. Isso acontece por causa da degradação da cultura no nosso tempo.

Continua, aqui.

26/07/14

© Jean-Luc Godard | Le Mépris, 1963

“Biquíni é essa coisa que começa de repente e acaba subitamente.”

Millôr Fernandes, aqui

25/07/14

© Luísa Ferreira | Nós, 2009
© Luísa Ferreira | Nós, 2009

"E agora também gosto daquelas pessoas que procuram remontar às raízes e para isso se deitam na erva fresca da manhã e contemplam o céu e as nuvens como se fosse a primeira vez e se tornam mais fortes na sua radicalidade inocente e acabam rondando à volta de alguma teoria da relatividade, que o mesmo é dizer que aprendem a olhar e a pensar de novo e começam uma vida nova." 

Enrique Vila-Matas, in Diário Volúvel

24/07/14

de vez em quando vem a inquietação

© Jaclyn Campanaro

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como alo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

Clarice Lispector, in A Descoberta do Mundo - crónicas

23/07/14

© Richard Misrach 


"Depois deixávamos os pés marcados na areia virgem junto ao voo das aves"

Ruy Belo, in [foi um verão exaltante] - Granta 3

22/07/14

Lee Chang-Dong | Poetry, 2010

How is it over there?

How lonely is it?
Is it still glowing red at sunset?
Are the birds still singing on the way to the forest?
Can you receive the letter I dared not send?
Can I convey…
the confession I dared not make?
Will time pass and roses fade?
Now it's time to say goodbye
Like the wind that lingers and then goes,
just like shadows
To promises that never came,
to the love sealed till the end.

To the grass kissing my weary ankles

And to the tiny footsteps following me
It's time to say goodbye
Now as darkness falls
Will a candle be lit again?
Here I pray…
nobody shall cry…
and for you to know…
how deeply I loved you
The long wait in the middle of a hot summer day
An old path resembling my father's face
Even the lonesome wild flower shyly turning away
How deeply I loved
How my heart fluttered at hearing faint song
I bless you
Before crossing the black river
With my soul's last breath
I am beginning to dream…
a bright sunny morning…
again I awake blinded by the light…
and meet you…
standing by me.

in Poetry

18/07/14

© Margaret Durow


De poetas e filósofos tu sabes,
sabes também por ti. Por isso eu digo:
esta pedra é vermelha, esta pedra é sangue.
Toca-lhe: saberás
como em segredo florescem as acácias
ao redor dos muros, como fluem
suas concêntricas artérias. Acaricia-as: tocas
a parte mais sensível de ti mesmo.

Dizias ontem que o verão ardia
nesta pedra. Nela
queimavas tuas mãos. Onde
as aqueces hoje? Eu digo:
o verão não morreu, esta pedra é o verão.

E tudo permanece. E tudo é teu.
Tu és o sangue, o verão e a pedra.


Albano Martins, in Assim são as Algas

16/07/14

Tilda Swinton

"Tinha os olhos azuis, claros. Durante vários minutos, parece que só lhe vi os olhos e me agarrei a eles para poder respirar. Sorria, num rasgo cinico e macilento de quem sabe mais do que revela, de quem revela mais do que diz." 

Raquel Ribeiro, in É perigoso ser feliz duas vezes - Granta II

15/07/14

ele beijou-a

© Marina Abramovic e Ulay - Breathing In / Breathing Out 

"Também se podia falar de um roubo da respiração. Aliás, está é uma expressão utilizada para substituir o beijo: ele tomou-lhe a respiração, ele beijou-a." 

Gonçalo M Tavares, in Atlas do corpo e da imaginação - teorias, fragmentos e imagens

14/07/14

© Paul Kohl
Escritas na Água - Imagens do quotidiano da Índia e do Japão

"A realidade flui, imparável; a genialidade em fotografia é agarrar, como um peixe pelo anzol, momentos que se precipitam por essa cascata; eu, olhando para tudo; tudo o que me interessa; a alegria de ver, descobrir, partilhar, escrever na água. Sinto-me grato."

Escritas na Água apresenta as fotografias de Paul Kohl reunidas nos livros Wandering in Fertile Fields, sobre paisagem indiana contemporânea, e Two Fish, Out of Water, resultante do trabalho realizado no Japão. - aqui.

11/07/14

O corpo também nos individualiza.

© Maria - Museu Nacional de Arte Antiga, 2014


"E parece existir de forma independente do pensamento. Autónomo. É misteriosa a forma como corpo e pensamento se entendem ou desentendem, como convivem e negoceiam. Também pertencemos ao nosso corpo."

Dulce Maria Cardoso, in Em busca d'eus desconhecidos - Granta I

10/07/14

© Alex Gozblau

"Nunca tinha sido levada assim na horizontal, é levemente nauseante."

Alexandra Lucas Coelho, in Laparotomia 

09/07/14

© Margaret Durow

"Tenho actualmente 33 anos e a sensação de que já passou muito tempo e de que o tempo está a passar cada vez mais depressa a cada dia. Dia após dia, tenho de fazer todo o tipo de escolhas sobre o que é bom, importante e divertido e depois tenho de viver com a perda de todas as outras opções que essas escolham eliminam. 
...
Mas uma vez que são as minhas próprias escolhas que me vão prender, parece-me inevitável - se quiser ser minimamente adulto, tenho de fazer escolhas, lamentar as que eliminei e tentar viver com isso."

David Foster Wallace, in Uma coisa supostamente divertida que nunca mais vou fazer

08/07/14

A partilha de um segredo chamado Blarmino.

© Patrícia Almeida | Rui Catalão 
"Canções i comentários (Exmo. sr. Blarmino)", 2014


"Não existe nada mais terrível do que conhecer-se uma coisa que não se pode partilhar” diz-nos Rui," aqui.

Hoje e amanhã no Teatro Maria Matos.

04/07/14

© Teresa Nabais 

«Encontrei um sítio para me esconder», escreveu o meu pai, «e chorei até não poder mais.» Com essa carta tinha recebido outra de Margaret. No cimo da página, ela citava Coríntios 12:9: «Porque é na fraqueza que a minha força se revela totalmente. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas.»

Siri Hustvedt, in Elegia para um Americano

03/07/14

© Brooke Shaden



mais um 
Vidro Azul 
para ouvir 
aqui

02/07/14

© Paul Kohl | Istanbul, 2014

"O problema é que todos nós somos cegos, dependentes de representações predeterminadas sobre o que acreditamos que vamos ver. É o que acontece na maior parte do tempo. Não experienciamos o mundo. Experienciamos as nossas expectativas acerca do mundo."

Siri Hustvedt, in Elegia para um Americano

01/07/14

© Patrícia Almeida | Rui Catalão 
 "Canções i comentários (Exmo. sr. Blarmino)", 2014


"Só preciso de manter-me claro e de ver como as coisas são, porque se fecho os olhos - bum - lá se vai mais um ano." Há dez anos eu descobri o escritor de canções desta geração. Como o segredo se manteve, chegou a hora de revelá-lo." aqui

Rui Catalão