29/01/16


Massive Attack | Ritual Spirit, 2016

- "Estás doido? Todo o teu mundo está a ruir, a partir-se, e tu estás à procura de uma palavra?" Depois, percebi que estava certo - é necessário insistir na fiabilidade das palavras. O mundo parecia um erro terrível, mas se eu encontrasse a palavra certa, então encontraria uma coisa certa num mundo que tem sido errado. 

David Grossman

27/01/16

© Harry Gruyaert


Não vou defender as escolhas que fiz. Se não foram práticas, a verdade é que eu não queria ser prático. O que eu queria era experiências novas. Queria sair para o mundo e pôr-me à prova, saltar de uma coisa para outra, explorar o mais que pudesse. E desde que mantivesse os olhos abertos, achava que, independentemente do que me acontecesse, seria útil e ensinar-me-ia coisas que nunca conhecera antes. Isto poderá parecer um procedimento um bocado antiquado, e talvez tenha sido. Jovem escritor despede-se da família e dos amigos e parte para lugares desconhecidos para descobrir de que é feito. Para o melhor ou para o pior, duvido que qualquer outro caminho tivesse sido conveniente para mim. Tinha energia, uma cabeça fervilhante de ideias e pés ansiosos por andar. Dado o tamanho do mundo, a última coisa que desejava era jogar pelo seguro.

Não me custa descrever estas coisas e recordar como me fizeram sentir. A complicação só começa quando pergunto por que motivo as fiz e senti o que senti.

Paul Auster, in Da mão para a boca

25/01/16

© Paul Kohl | Izumi Ueda Yuu


...
também isto é
sublime e quotidiano.

Gabriel del Sarto



NO BORDERS | Museu do Oriente | Até 27 de Março

21/01/16

© Per Maning

... porque o sentido não é alguma coisa que recebemos, mas alguma coisa que damos. A morte torna a vida sem sentido porque tudo aquilo que nos esforçámos sempre por alcançar acaba quando a vida acaba, mas faz também com que a vida tenha sentido, porque a sua presença torna a pouca que temos indispensável, torna precioso cada momento. 

Karl Ove knausgård, in A minha luta: 2 - Um homem apaixonado

20/01/16

© Izumi Ueda Yuu | No Borders


O grande mistério não é o universo.

Edward Witten

15/01/16

© Fernando M. | Este nosso mundo, 2011

Compreender o mundo exige que se mantenha uma certa distância dele. Ampliamos coisas que são demasiado pequenas para serem vistas a olho nu, como moléculas e átomos. Reduzimos coisas que são demasiado grandes, como nuvens, deltas e constelações. Só fixamos o mundo quando o temos ao alcance dos nossos sentidos. A essa fixação chamamos conhecimento. Durante a nossa infância e juventude lutamos para manter a distância correcta das coisas e dos fenómenos. Lemos, aprendemos, experimentamos, corrigimos. Então, um dia, chegamos ao ponto em que todas as distâncias necessárias foram determinadas, todos os sistemas foram estabelecidos. É aí que o tempo começa a acelerar. Já não encontra qualquer obstáculo, está tudo determinado, o tempo passa rapidamente pelas nossas vidas, os dias sucedem-se num piscar de olhos, e, antes que nos apercebamos do que está acontecer, temos quarenta, cinquenta, sessenta anos...

Karl Ove knausgård, in A minha luta: 1- A morte do pai

12/01/16

© Os Espacialistas | Casa re/parada, 2016

...
o olhar que distende o movimento da mão conduz
à casa a casa a casa a casa
a conciliação dos trabalhos da mão
com o perfume do silêncio

então, antevejo:
o poema é a mão que corrige o olho,
que antecipa a eternidade

sou o caminho dessa mão
que antevê o cálculo
do marinheiro que manobra
o astrolábio da canção

essa mão é todo o corpo do poema
...

Luís Felício

06/01/16

© Os Espacialistas | Malha de ar quente, 2016


Palavras? Sim, de ar,
e no ar perdidas.
Deixa-me perder entre palavras,
deixa-me ser o ar nuns lábios,
um sopro vagabundo sem contornos
que o ar desvanece.

Também a luz em si mesma se perde.


Octavio Paz