31/01/14

© Robert Capa, 1951


"...gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol." 

Eugénio de Andrade, in Ensaios reunidos de Luís Miguel Nava

30/01/14

Solomon Northup

© Steve McQueen | 12 Years a Slave, 2013 

"Having been born a freeman, and for more than thirty years enjoyed the blessings of liberty in a free State-and having at the end of that time been kidnapped and sold into Slavery, where I remained, until happily rescued in the month of January, 1853, after a bondage of twelve years—it has been suggested that an account of my life and fortunes would not be uninteresting to the public.
Since my return to liberty, I have not failed to perceive the increasing interest throughout the Northern States, in regard to the subject of Slavery. Works of fiction, professing to portray its features in their more pleasing as well as more repugnant aspects, have been circulated to an extent unprecedented, and, as I understand, have created a fruitful topic of comment and discussion.
I can speak of Slavery only so far as it came under my own observation—only so far as I have known and experienced it in my own person. My object is, to give a candid and truthful statement of facts: to repeat the story of my life, without exaggeration, leaving it for others to determine, whether even the pages of fiction present a picture of more cruel wrong or a severer bondage." 

Solomon Northup, in "Twelve years a slave - Narrative of Solomon Northup, a citizen of New-York, kidnapped in Washington city in 1841 and rescued in 1853, from a cotton plantation near the Red River in Louisiana"

The Violin, and the consolation it afforded...

© Steve McQueen | 12 Years a Slave, 2013 

"During my residence with Master Ford I had seen only the bright side of slavery. His was no heavy hand crushing us to the earth. He pointed upwards, and with benign and cheering words addressed us as his fellow-mortals, accountable, like himself, to the Maker of us all. I think of him with affection, and had my family been with me, could have borne his gentle servitude, without murmuring, all my days. But clouds were gathering in the horizon —forerunners of a pitiless storm that was soon to break over me. I was doomed to endure such bitter trials as the poor slave only knows, and to lead no more the comparatively happy life which I had led in the Great Pine Woods." 

Solomon Northup, in "Twelve years a slave - Narrative of Solomon Northup, a citizen of New-York, kidnapped in Washington city in 1841 and rescued in 1853, from a cotton plantation near the Red River in Louisiana"

29/01/14

28/01/14

à nossa volta



“Percebi que quando não podemos mudar o mundo, podemos ao menos mudar a nossa relação com ele e isso passa também por saber olhar para a beleza à nossa volta.” 
Nick Cave, aqui e aqui.
© Jean-Marc Vallée | Dallas Buyers Club, 2013


"This film was never about dying, it was always about living. And with that I say just keep." 
Matthew McConaughey, in Golden Globe Awards 2014

27/01/14

Pus-me a lembrar aqueles dias...

© Irving Penn | Summer Sleep - New York, 1949


de verão passados...

César Vallejo

26/01/14

© Nils Jorgensen

"Um dia, há muitos anos, cruzei-me na rua comigo numa cidade estrangeira. Recordo agora, do lado de fora, esse instante." 

Manuel António Pina, in Todas as palavras

25/01/14

© Andreas Feininger, 1951


Temos um ditado persa que diz, quando alguém olha com verdadeira intensidade: 
"Tinha dois olhos e pediu mais dois emprestados."

Abbas Kiarostami
in Duas ou três coisas que sei de mim - Cinemateca Portuguesa, 2004

23/01/14

por um instante

© Letizia Battaglia, 1982


"É no momento que encerra a beleza de um gesto
que se prolonga a vida -
...
O tempo não se mexe.
A vida, por um instante, é enorme."

Maria do Rosário Pedreira

22/01/14

© Catarina Mourão | Pelas Sombras, 2010


"A construção do filme foi muito baseada na minha relação com a Lourdes Castro. 'Pelas Sombras' também é um documento sobre a minha relação com ela. Uma relação construída no tempo, pelo tempo." 
Catarina Mourão

Uma retrospectiva a não perder e que pode ser vista aqui.

E há imagens na terra

© Robert Mapplethorpe | Patti Smith, 1978

A mulher muitas vezes avança

A mulher muitas vezes caminha pela borda
Do vestido. Pudesse tocar
A fímbria ou a franja de toda a casa
Ela a sararia. Ela sairia
Com o cabelo solto

Muitas vezes a mulher prende o cabelo com as mãos
Cose muitas vezes com a lâmpada por dentro - a agulha
A cerzir o brilho. A mulher remenda
A lâmpada apagada. Por dentro
O coração ponteia alguma luz

A vida roda, o vestido rompe-se

A mulher é um barco quando se afunda
A hélice gira - gera como planta
Em redor da luz. A mulher
Anda em redor como corola
Sem pólen

A azenha anda à volta na memória e a água corre-lhe
Dos olhos. Põe o coração para a frente como os fuzilados
Enxuga os olhos como se espalhasse. A mulher
Varre infinitamente mais do que o que vemos ou somos capazes de
imaginar

E há imagens na terra
Que nunca lembram o céu


Daniel Faria

to take the bull by the horns

John Grant

“Moving to Reykjavik, at the age of 43, was incredibly risky and scary (...) I didn’t know anyone here, but I’ve built up a life here, and recorded an album I’m really proud of, that distils what I’m about down to its most essential components, better than ever before. And this was during the middle of health issues. It means I’m trying to take the bull by the horns, and to live.”, aqui.

21/01/14

não é?

© Larry Fink, 1977

“numa noite de audácia incomparável
passo a tratar-te por tu, e abraço com as pontas dos dedos
os nós das tuas mãos; no fresco calor condicionado
de um quarto onde a luz não dá para ler, recito
estrofes e mitos; beijo-te, não é? nada estava escrito,
nenhuma verdade comum aos planetas,
éramos só nós sem nenhum segredo,
vivos e completos, serenos, mortais”

António Franco Alexandre 

19/01/14

© Ernesto Bazan, 1998

"No início tudo estava vivo. Os mais pequenos objectos eram dotados de corações pulsantes, e até as nuvens tinham nomes. As tesouras caminhavam, os telefones e os bules eram primos direitos, os olhos e os óculos eram como irmãos. A face do relógio era uma face humana, cada ervilha na tua taça tinha uma personalidade diferente, e a grelha na frente do carro dos teus pais era uma boca sorridente com muitos dentes. As canetas eram aviões. As moedas eram discos voadores. Os ramos das árvores eram braços. As pedras pensavam e Deus estava em toda a parte.

© Henri Cartier-Bresson, 1962

Claro que o mundo era plano. Quando alguém te tentou explicar que a Terra era uma esfera, um planeta a orbitar o sol com mais oito planetas numa coisa chamada sistema solar, não conseguiste compreender o que o rapaz mais velho dizia. Se a Terra fosse redonda, então toda a gente abaixo do equador cairia, uma vez que era inconcebível que uma pessoa pudesse viver de cabeça para baixo. O rapaz mais velho tentou explicar-te o conceito de gravidade, mas tal também estava para lá da tua compreensão. Imaginaste milhões de pessoas a mergulhar de cabeça pela escuridão de uma noite infinita, omnívora. Se a Terra era de facto redonda, disseste a ti próprio, então o único sítio seguro para se estar era o Polo Norte.

© David Seymour, 1948

As estrelas, por outro lado, eram inexplicáveis. Não eram buracos no céu, nem velas, nem luzes eléctricas, não eram nada que se parecesse com o que conhecias."


Paul Auster, in Relatório do interior

18/01/14

2013


Sudden Throw
Brim
A Stutter
Words Of Amber
Reclaim
Hands Be Still
We (Too) Shall Rest
Carry Me Anew

17/01/14

se tiverem realmente aprendido a pensar, a prestar atenção, então saberão que há outras opções.

© Marion Ettlinger | David Foster Wallace


"...a única Verdade com V grande é que vocês têm a possibilidade de decidir como é que vão tentar ver as coisas.
Isto, defendo eu, é a liberdade da verdadeira educação, de aprender a ser bem adaptado: poder decidir conscientemente o que tem significado e o que não tem.
Poder decidir o que adorar...
...
Se adorarem o dinheiro e as coisas materiais - se for daí que extraem significado real da vida -, então nunca terão o suficiente.
A verdade é essa.
Adorem os vossos corpos, a beleza e a atracção sexual e irão sentir-se sempre feios, e quando o tempo e a idade começarem a deixar marcas, sofrerão um milhão de mortes antes de serem finalmente enterrados.
De certo modo, já todos sabemos isto - foi codificado em mitos, provérbios, clichés, lugares-comuns, epigramas, parábolas:  o esqueleto de todas as grandes histórias.
O truque é manter a verdade sempre à cabeça da nossa consciência no dia a dia.
Adorem o poder - sentir-se-ão fracos e amedrontados e precisarão sempre de ter cada vez mais poder sobre os outros para controlarem o medo.
Adorem o vosso intelecto, serem considerados inteligentes - acabarão por se sentir estúpidos, uma fraude, sempre à beira de serem descobertos.
E por aí fora.
...
A liberdade de sermos todos senhores dos nossos minúsculos reinos, do tamanho dos nossos crânios, sozinhos no centro de toda a criação.
Este tipo de liberdade tem muito que a recomende.
Mas claro que há imensos tipos de liberdade e do tipo mais precioso não irão ouvir falar muito no grande mundo exterior do lucro, da realização pessoal e do exibicionismo.
O tipo de liberdade realmente importante tem a ver com a atenção e consciência, disciplina e esforço e sermos capazes de nos preocuparmos verdadeiramente com as outras pessoas e de nos sacrificarmos por elas, repetidamente, de um sem-número de formazinhas insignificantes e nada sexys, todos os dias.
Isso é a verdadeira liberdade.
Isso é ensinarem-nos a pensar.
A alternativa é a inconsciência, a configuração natural por defeito, a lufa-lufa esgotante da competição - a sensação constante e devoradora de termos tido e perdido qualquer coisa infinita.
...
É incrivelmente difícil fazer isto - viver conscientemente, de forma adulta, todos os dias.

O que significa que ainda há outro cliché que é verdade: a vossa educação é realmente uma tarefa para toda a vida, e começa - agora.

Desejo-vos muito mais do que sorte."

David Foster Wallace, in «A água é isto.»  - Algumas ideias, expressas numa ocasião importante sobre como viver uma vida compassiva.  [David Foster Wallace foi convidado para discursar aos alunos finalistas do Kenyon College, em 2005, sobre um tema à sua escolha. Foi o único discurso deste género que fez.]


© Marion Ettlinger | David Foster Wallace, 2001

16/01/14

"Pensas que nunca te vai acontecer, que não te pode acontecer, que és a única pessoa no mundo a quem essas coisas nunca irão acontecer, e depois, uma a uma, todas elas começam a acontecer-te, como acontecem a toda a gente."

Paul Auster, in Diário de Inverno


 © David Seymour, 1936



hoje

 © Pony Cassells | Cass McCombs

County Line

15/01/14

E por falar nisso...

©  Karine Léger

... aqui fica o caminho para ouvir mais um belíssimo

Feliz aquele que administra sabiamente...

© Tonje Thilesen | Gem Club - Polly - In Roses, 2014


...a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias

Ruy Belo

13/01/14

Patricio Guzmán | Nostalgia de la luz, 2010

"A complexidade não deve assustar ninguém. Simplificar é o pior que se pode fazer, é um atentado contra o documentário."

Patricio Guzmán, aqui.

12/01/14

© Netflix | House of Cards, 2013

Francis Underwood: There are two kinds of pain. The sort of pain that makes you strong, or useless pain. The sort of pain that's only suffering. I have no patience for useless things.

11/01/14

Marc Almond


"The singers I admire tend to be the ones who bring something of their own baggage with them on to the stage. Otherwise you might as well just stay at home and listen to a recording." Marc Almond, aqui.

10/01/14

© Jacques Henri Lartigue


Riso, n. Uma convulsão interior, que produz uma distorção da expressão facial e que é acompanhada por sons desarticulados. É contagioso e, embora intermitente, incurável.

Ambrose Bierce, in Dicionário do Diabo

08/01/14

© Caras Lonut

"Graças ao Google Earth, hoje em dia é possível ver nos nossos ecrãs todos os pormenores deste planeta. Não só o grande globo azul que os satélites nos permitiram observar do espaço, confirmando a intuição de Éluard de que «la terre est bleue comme une orange»..." 

Alberto Manguel, in Dicionário de lugares imaginários

e
mais 
Vidro Azul
para 
ouvir

07/01/14

Hello Stranger


Julia Holter | Loud City Song, 2013


They're having a conversation...

© Jonas Cuaron | Aningaaq, 2013


...but they don't understand each other.


(Obrigada, Bernardo Martins)

06/01/14

É proibida a entrada...

© Ben Stiller | The Secret Life of Walter Mitty 


...a quem não andar
espantado de existir.

José Gomes Ferreira

05/01/14

I watched and learned how to fly

Bill Callahan | Dream River, 2013


You used to take me up
I watched and learned how to fly
No navigation system beyond our eyes watching
I always went wrong in the same place
Where the river splits towards the sea
That couldn’t possibly be you and me
Sometimes you sleep while I take us home
That’s when I know we really have a home
I never like to land
Getting back up seems impossibly grand
We do it with ease
Danger, I never think of danger
I really am a lucky man
I really am a lucky man flying this small plane
I like it when I take the controls from you
And when you take the control from me
I really am a lucky man
I really am a lucky man flying this small plane
Eyes scan the path ahead and all around

Bill Callahan, aqui.

04/01/14

ainda o ao mesmo tempo

© Jia Zhang-ke | A Touch of Sin, 2013

"In “A Touch of Sin,” the world isn’t an amorphous backdrop, pretty scenery for private dramas, it is a stage on which men and women struggle to fulfill basic moral obligations, including recognizing one another’s humanity." 

Manohla Dargisl, in Living and Killing in a Materialist China - aqui.

03/01/14

Ao mesmo tempo

© David Lynch

"É só disso que Lynch fala neste filme: inocência e condenação ao mesmo tempo; ser vítima de pecados e pecar ao mesmo tempo. Em Twin Peaks: Os últimos sete dias de Laura Palmer, Laura Palmer é ao mesmo tempo «boa» e «má», mas também nem uma coisa nem outra; é complexa, contraditória, real. E nós odiamos essa possibilidade nos filmes; odiamos essa merda do «ao mesmo tempo». «Ao mesmo tempo» surge-nos como uma caracterização mal-amanhada das personagens, cinema pouco claro, ausência de um ponto de vista central. (...) Mas eu defendo que a verdadeira razão para termos criticado e repudiado o ao mesmo tempo pouco claro da Laura de Lynch foi o facto de exigir que confrontássemos de uma forma compreensiva precisamente esse ao mesmo tempo pouco claro existente dentro de nós e dos nossos amigos íntimos e que torna o mundo real dos eus morais tão tenso e desconfortável, um ao mesmo tempo que vamos ao cinema tentar esquecer para conseguir ter a porra de um par de horas de alívio. Um filme que requer que essas características de nós próprios e do mundo sejam não afastadas, via sonhos, juízos ou massagens, mas reconhecidas, e não apenas reconhecidas mas utilizadas na nossa relação emocional com a própria heroína - esse filme vai deixar-nos desconfortáveis, lixados..." 

David Foster Wallace, in David Lynch não perde a cabeça 

01/01/14

Em quem pensar, agora, senão em ti

© Fernando | auto-retrato

"É isso que é o amor. Não há nenhuma resposta clara para isso. Quando se reconhece que há alguém mais importante que nós, decidimos, se pudermos, ligar as duas vidas uma à outra. (...) Há um ponto em que a razão expira, em que as opções deixam de ser racionais. Devemos usar a razão, mas não para além do ponto em que ela perde o sentido. E claro, um casamento ou uma relação entre pessoas, obriga-nos a pensar muitas coisas. Mas chega a altura em que todas as razões pró e contra se esgotaram e só nessa altura nos rendemos à vida e ela se torna uma coisa de suprema importância, mas é a vida de um ser consciente de si próprio, não apenas um animal. (...) Ter este sentimento para com outra pessoa e estarem ambos preparados para isto, já é automaticamente viver acima dessa rotina quotidiana, sair dela e experimentar algo sublime."

Roger Scruton, in O Belo e a Consolação