31/10/12
30/10/12
'olha é outono'
29/10/12
'You live and learn'
Terry Callier [24.05.1945 - 28.10.2012] & Massive Attack | Hidden Conversations, 2008
28/10/12
os recantos mais negros
Man Man | Six Demon Bag, 2006
in, Dança da Morte de August Strindberg | Teatro Municipal São Luiz até 17 de Novembro
26/10/12
uma palavra
este poema é para ti
é uma coisa séria
24/10/12
caminha suavemente
The National | Boxer, 2007
"eu estendi os meus sonhos sob os teus pés.
caminha suavemente, pois caminhas sobre os meus sonhos."
W.B.Yeats
a absoluta necessidade
eu jamais seria eu
© Fjorge | Casa de Serralves, 2007
"morreste-me. Mas a memória guarda-me o teu cheiro, as tuas mãos e o teu sorriso. Estás em nós e eu estou em ti. Eu jamais seria eu sem a tua presença constante na minha vida. Comparência que eu gostaria de poder prolongar. Mantenho a memória acesa com pedaços de imagens que me fazem sorrir.
Deixaste-te ficar em tudo... os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a sua pele."
José Luís Peixoto in, morreste-me
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23/10/12
fixares residência em ti
The Divine Comedy | Make It Easy On Yourself
Uma coisa é necessária – aqui
neste nosso mundo díficil
de sem-abrigos e desterrados:
Fixares residência em ti.
Entra pela escuridão
e limpa a fuligem da lâmpada.
Para que as pessoas na estrada
possam entrever uma luz
em teus olhos habitados.
Hans Børli
o poema seria
22/10/12
We will be what we do together
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Dorine e André Gorz [1923-2007]
"Your replay was unanswerable: 'If you join with someone for life in marriage, you share your lives together and you refrain from doing what might divide or damage your marriage. Building your life together as a couple is your common project and you never finish reinforcing it, adapting it, reshaping it to fit changing situations. We will be what we do together.' "
André Gorz in, Letter to D - A love story, 2006
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and I love you more than ever
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© Daniel Mordzinski | André Gorz e Dorine
"You're 82 years old. You've shrunk six centrimetres, you only weigh 45 kilos yet you're still beautiful, graceful and desirable. We've lived together now for 58 years and I love you more than ever. I once more feel a gnawing emptiness in the hollow of my chest that is only filled when your body is pressed nest to mine.
(...) I need to piece together the story of our love to appreciate its full meaning. It's what has allowed us to become who we are, living through each other and for each other. I'm writing to you now to understand what my life has been, what our life together has meant."
André Gorz in, Letter to D - A love story, 2006
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o que sou
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Tomas Tranströmer
"Sentimo-nos sempre mais novos do que somos. Trago em mim todos os meus rostos anteriores, como a árvore tem os anéis da sua idade. O que sou é a soma de todos esses rostos. O espelho só vê o meu rosto mais recente, mas eu conheço todos os anteriores."
Tomas Tranströmer, in As minhas lembranças observam-me
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21/10/12
um dia chegou ao fim
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© Edward Hopper | Night-Windows,
1928
"O inverno aproximava-se do fim, e os dias alongaram-se. Foi
então que se deu o milagre de a escuridão na minha vida começar também a
recuar. Paulatinamente. Demorei algum tempo a tomar consciência do facto. Uma
noite, na primavera, apercebi-me de que a angústia era agora marginal.
Tomas Tranströmer, in As minhas
lembranças observam-me
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20/10/12
O amor é
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Manuel António Pina [18.11.1943 - 19.10.2012] |
"O amor é o principal veículo de comunicação. [Aproxima-se uma gata] (É a minha gatita, deve ter tropeçado.) De maneira que o amor ou a bondade é tudo o que temos. Memória é tudo o que temos, palavra é tudo o que temos..."
Manuel António Pina, in jornal Público, 2011
19/10/12
todas as palavras
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Manuel António Pina [18.11.1943 - 19.10.2012]
TODAS AS PALAVRAS
As que
procurei em vão,
principalmente
as que estiveram muito perto,
como uma
respiração,
e não
reconheci,
ou
desistiram e
partiram
para sempre,
deixando
no poema uma espécie de mágoa
como uma
marca de água impresente;
as que
(lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram
capazes de dizer-me;
as que
calei por serem muito cedo,
e as que
calei por serem muito tarde,
e agora,
sem tempo, me ardem;
as que
troquei por outras (como poderei
esquecê-las
desprendendo-se longamente de mim?);
as que
perdi, verbos e
substantivos
de que
por um
momento foi feito o mundo
e se
foram levando o mundo.
E também
aquelas que ficaram,
por
cansaço, por inércia, por acaso,
e com
quem agora, como velhos amantes sem
desejo,
desfio memórias,
as minhas
últimas palavras.
Manuel António Pina
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Sim, mas como se faz?
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© Edward Hopper | Hotel room, 1931
"Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moínha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si, isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
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observam-me #2
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Tomas Tranströmer
"«A minha vida.» Quando penso estas palavras, vejo diante de mim um rasto de luz. Observando melhor, a luz tem a forma de um cometa, com uma cabeça e uma cauda. A extremidade mais luminosa, a cabeça, é a infância e a idade do crescimento. O núcleo, a parte mais densa, é a primeira infância, quando são determinados os traços principais da nossa vida. Tento recordar-me, tento chegar lá. Mas é difícil movimentarmo-nos nessas regiões muito condensadas, é perigoso, tenho a sensação de que chegaria muito próximo da morte. Mais adiante, o cometa dilui-se: é a parte mais comprida, a cauda. Torna-se cada vez menos denso, mas também mais largo. Encontro-me agora num ponto muito avançado da cauda do cometa; tenho sessenta anos no momento em que escrevo estas linhas."
Tomas Tranströmer, in As minhas lembranças observam-me
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fazer falar
18/10/12
era uma vez
Tim Burton | Frankenweenie, 1984
Susan: "When you lose someone you love, they never really leave you.
They move into a special place in your heart."
Victor: "I don't want him in my heart. I want him here with me."
observam-me
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Tomas Tranströmer aos seis anos
"O centro cívico, chamado Medborgarhuset, foi construído por volta de 1940. Um enorme cubo em pleno Soder, mas um edifício cheio de luz, moderno, funcional, que justificava todas as expectativas. Ficava a apenas cinco minutos da casa onde morávamos.
O centro cívico incluía uma piscina uma piscina pública e uma delegação da biblioteca municipal.
(...)
Escapulia-me para a biblioteca quase todos os dias. Mas as coisas não se passavam de forma inteiramente despreocupada. Acontecia, de vez em quando, eu querer ler livros que as senhoras da biblioteca não consideravam próprios para a minha idade.
(...)
Pior ainda era quando eu tentava entrar na secção dos adultos. Precisava de um livro que não existia na secção das crianças. Era retido logo na entrada.
(...)
Esta secção ficava paredes-meias com os banhos. Logo à entrada se sentiam os vapores da piscina e o cheiro a cloro que vinha dos respiradouros, e ouvia-se o eco das vozes lá dentro. Todas as instalações de banhos têm uma acústica magnífica. O templo da saúde e os livros eram vizinhos, que alegria!"
Tomas Tranströmer, in "As minhas lembranças observam-me"
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da paixão
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[fotógrafo desconhecido in, Cultura Inquieta]
li algures que os gregos antigos...
quando alguém morria perguntavam apenas: tinha paixão? quando alguém morre também quero saber da qualidade da sua paixão: se tinha paixão pelas coisas gerais, água, música, pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos, pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória, paixão pela paixão, tinha? e então indago de mim se eu próprio tenho paixão, se posso morrer gregamente, que paixão? os grandes animais selvagens extinguem-se na terra, os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem, homens e mulheres perdem a aura na usura, no comércio, na indústria, dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera, trémulos objectos entrando e saindo dos dez tão poucos para tantos objectos do mundo e o que há assim no mundo que responda á pergunta grega, pode manter-se a paixão como fruta comida ainda viva, e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes, palavra soprada a que forno com que fôlego, que alguém perguntasse: tinha paixão? Herberto Helder in, A Faca Não Corta O Fogo |
17/10/12
protejo esse lugar
16/10/12
aplicado à vida
como agarrar
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© Arno Rafael Minkkinen | Sweden, 2007 "A vida é um objecto rudimentar, tosco, disforme, que nunca os homens entenderam como agarrar. Ainda nem sequer perceberam qual o lado de cima desse estranho objecto. Ainda mal pousaste as mãos sobre a vida e já a vida pousou fortemente as mãos sobre ti." Gonçalo M. Tavares |
ao amor
15/10/12
vivia imerso
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© The Family of Children, 1977
"O perigo de ser considerado estranho perturbava-me fortemente porque, no meu íntimo, desconfiava que o era. Vivia imerso em interesses que nenhum rapaz normal teria. Frequentava as aulas de desenho extracurriculares e desenhava cenas subaquáticas: peixes, ouriços-do-mar, caranguejos, búzios. A professora comentou em voz alta que os meus desenhos eram muito «especiais», e o pânico surgiu novamente. Havia uma categoria de adultos insensíveis que estavam sempre a apontar-me como sendo diferente. Na realidade, os meus colegas eram mais tolerantes. Eu não era popular, mas também não era perseguido."
Tomas Tranströmer, in As minhas lembranças observam-me
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14/10/12
Proteger, Valorizar e Promover
Proteger, Valorizar e Promover o Jardim Botânico de Lisboa votando no Projecto 227
do Orçamento Participativo da Câmara Municipal de Lisboa.Eis o que se poderá fazer se o Projecto 227 vencer:
✿ Melhoria das infraestruturas de apoio ao visitante;
✿ Restauro dos caminhos;
✿ Restauro das cisternas e do sistema de recolha de águas pluviais;
✿ Aperfeiçoamento do sistema de rega;
✿ Criação de sistema de combate a incêndios e iluminação de emergência.
Para votar saiba como aqui: http://vota227.ul.pt/
12/10/12
um país
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© Arno Rafael Minkkinen | Finland, 2009
"Esse país [Finlândia] é o menos corrupto do mundo (diga-se desde já) e encontra-se situado na primeira linha de crescimento, inovação, difusão tecnológica e protecção social. Conta com vinte orquestras sinfónicas para os seus cinco milhões de habitantes. São parcos em palavras, é verdade, mas comunicam com uma sensatez e inteligência inabituais nos países latinos. E, além disso, não são mais tristes do que um andaluz em plena borga.
(...)
A existência das vinte orquestras sinfónicas é uma das chaves da sua prosperidade espiritual. Foram pioneiros no estabelecimento do sufrágio universal e também nas comunicações telefónicas (...). Não há, por outro lado, apagões e os comboios suburbanos funcionam com uma perfeição alucinante. Os aeroportos são um modelo de ordem, geometria, calma e transparência. Os políticos são muito eficazes e não aparecem na televisão, para poderem dispor de mais tempo para trabalhar.
(...) um país onde tudo é de uma normalidade esmagadora e onde, por muito que se diga, se soube sempre encontrar maneira para não ter de ficar estupidamente às escuras."
Enrique Vila-Matas in, Diário Volúvel
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o silêncio desta nossa paixão
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© London's South Bank / Marcos Saboya & Gualter Pupo, 2012
"Enquanto professor, alguém para quem a literatura, a filosofia, a música ou as artes são uma verdadeira substância da vida, como poderei eu exprimir a necessidade que sinto de uma lucidez moral, consciente das necessidades humanas e da injustiça que torna possível uma cultura a tal ponto elevada? As torres que nos isolam são mais sólidas do que o marfim. Não sei a resposta satisfatória para este problema.
Contudo, temos de encontrar uma resposta. Temos de a encontrar, se quisermos ser merecedores do privilégio desta nossa paixão, do milagre sempre renovado de segurar nas mãos um novo livro..."
George Steiner in, O Silêncio dos Livros
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ainda o silêncio
11/10/12
o silêncio dos livros
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© Wim Wenders | Wings of Desire, 1987
"Não existe neste planeta um único ser humano que não mantenha com a música um qualquer tipo de relação. A música, sob a forma do canto ou da execução instrumental, parece ser de facto universal. É a linguagem fundamental para comunicar sentimentos e significações. A maior parte das pessoas não lê livros. Porém, canta e dança."
George Steiner, in O silêncio dos livros |
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