06/01/13


© Alberto Martins | Macedo de Cavaleiros, 2013


Salvação pela poesia

Provavelmente nenhum verso salvará o mundo. Mas quem / é hoje capaz de salvar o mundo / ou apenas mudar o sentido / da vida de alguém? A pergunta de Eugénio [de Andrade] vem em O Sal da língua e, de uma forma ou de outra, todos os poetas um dia a fizeram: para quê? E, no entanto, os homens continuam a escrever poesia. Porque precisam os homens de poesia? Donde vem à poesia o misterioso prestígio, mistura de desprezo e de temor reverencial, de que parece gozar?
(...)
Em tempos desalmados como os nossos, talvez as pessoas procurem na poesia algo parecido com uma alma, em tempos de usuários a gratuitidade escandalosa dos sentidos e dos sentimentos. Poderá a poesia dar-lhes o que procuram? Infelizmente a poesia não é, receio bem, uma espécie de Igreja do Reino de Deus, nem os poetas são, pobre deles, sacerdotes ou profetas (talvez já tenham sido, mas também ele perderam literalmente a graça).


De qualquer modo, se dum soneto ou de uma ode não vier bem ao mundo, mal também não há-de vir."


Manuel António Pina, in Por outras palavras

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