18/05/14

© Henri Cartier-Bresson - Paris, 1968

"Tornamo-nos naquilo que somos por meio dos outros, e o nosso eu é poroso, não uma caixa selada. Se é verdade que começa como um mapa genético, trata-se de um mapa genético que se revela ao longo do tempo e somente em relação com o mundo. Os americanos agarram-se desesperadamente aos seus mitos de autocriação, ao individualismo implacável, hoje mais assente na economia de mercado do que no pioneirismo, à auto-ajuda, essa bizarra deturpação do faça-você-mesmo que transforma o ser humano num objecto que pode ser consertado com uma caixa de ferramentas e um manual de instruções. Não somos autores de nós mesmos, o que é diferente de dizer que não somos agentes ou que não temos responsabilidades - quer apenas dizer que tornamo-nos no que somos não escapa à relação."

Siri Hustvedt, in O meu pai, eu mesma - Granta 3, 2014

2 comentários:

  1. Tento adivinhar o que estás a sentir, quando os nossos joelhos nos apertam, quando nos tornamos líquidos. E vemo-nos retratados ali onde está a felicidade escrita de uma forma que desconhecia.

    Beijo-te,

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    1. "Poderás não saber onde estás, com exactidão, no mapa - quer o geográfico quer aquele, mais privado, onde te posicionas em relação aos outros - mas, pelo menos, estás frente a uma coisa bela - uma mulher, um animal, outro homem; um edifício. Não tens tudo, claro - nunca ninguém o teve -, contudo podes pelo menos garantir a ti próprio que não estás louco, e eis a prova: como alguém no lixo separa diferentes materiais - garrafas velhas de restos de comida -, tu separas o belo do que não o é. E separar é, em parte, ser lúcido."
      Gonçalo M. Tavares, in Breves notas sobre o medo

      Beijo-te,

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