23/11/13

© Nuri Bilge Ceylan

"Ao anoitecer, regresso a casa morto de cansaço. Olhando a direito, para as estradas e os passeios. Zangado com qualquer coisa, magoado, enraivecido. Embora a minha imaginação continue a conjurar belas imagens, nem estas se demoram no filme da minha cabeça. O tempo passa. Não há nada. Já é noite. Perdição e derrota. O que há para o jantar?
(...)
Depois estendi suavemente a mão, afastei as cortinas e, na escuridão do exterior, vislumbrei a Lua. Os outros mundos são os melhores consolos. Na Lua estavam a ver televisão. Terminei com uma laranja - era muito doce - e o meu espírito animou-se.
E então eu era o senhor de todos os mundos. Compreendem o que quero dizer, não compreendem? Cheguei a casa ao anoitecer. Cheguei a casa vindo de todas as aquelas guerras, boas, más e indiferentes; regressei inteiro e entrei numa casa aquecida. Tinha uma refeição à minha espera e enchi o estômago; as luzes estavam acesas; comi a minha fruta. Comecei até a pensar que tudo se iria resolver pelo melhor.
Depois pressionei o botão e vi televisão. Nessa altura já me sentia bem, sabem?"

Orhan Pamuk, in Outras cores - ensaios sobre a vida, a arte, os livros e as cidades

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