23/03/13

Balthus | Therese Dreaming,1938

"Quem é que conhece os gatos? - Dar-se-á, por exemplo, o caso do leitor pretender conhecê-los? Confesso que para mim, a sua existência nunca foi mais do que uma hipótese razoavelmente arriscada.

Para que os animais pertençam ao nosso mundo têm, é claro, de entrar um pouco nele. É preciso que concordem, por menos que seja, com o nosso modo de viver, que o tolerem; caso contrário, avaliarão, hostis ou receosos, a distância que os separa de nós e será esse o seu modo de relação.
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Mas qual é a atitude dos gatos? - Os gatos são gatos, simplesmente, e o seu mundo é o mundo dos gatos do princípio ao fim. Eles olham-nos, dirão os leitores! Mas poderemos alguma vez saber se realmente se dignam alojar, por um instante, no fundo da sua retina, a nossa fútil imagem? Talvez nos oponham apenas, ao fixarem-nos, uma recusa mágica com as suas pupilas para sempre completas?
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Terá o homem alguma vez sido seu contemporâneo? - Duvido. E asseguro-vos que, por vezes, ao crepúsculo, o gato do vizinho salta através do meu corpo, ignorando-me, ou para provar às coisas espantadas que eu não existo de modo nenhum."

Rainer Maria Rilke, in Mitsou - quarenta desenhos de Balthus 

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