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© Stephen Shore |
"O tempo é a dádiva da eternidade. Se nos fosse dado todo o
ser... O ser é mais do que o universo, mais que o mundo. Se nos mostrassem o
ser de uma só vez, ficaríamos aniquilados, anulados, mortos. Em contrapartida,
o tempo é a dádiva da eternidade. A eternidade permite-nos realizar todas essa
experiências de um modo sucessivo. Temos dias e noites, horas e minutos; temos
a memória, temos as sensações actuais e logo temos o provir, um porvir de que
ignoramos a forma mas que pressentimos ou tememos.
Tudo isso nos é dado sucessivamente porque não poderíamos
aguentar essa intolerável carga, essa intolerável descarga de todo o ser do
universo. O tempo seria, assim um dom da eternidade. A eternidade permite que
vivamos sucessivamente. (...) felizmente para nós, a nossa vida está dividida
em dias e em noites, a nossa vida é interrompida pelo sono. Erguemo-nos de
manhã, vivemos o nosso dia e depois adormecemos. Se o sono não existisse, seria
intolerável viver, não seríamos donos dos nossos prazeres. A totalidade do ser
é para nós impossível. Assim, é-nos dado tudo, mas gradualmente."
Jorge Luís Borges, in Borges Oral - edição Vega, 1994
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