03/01/13

David Rieff e Susan Sontag


"Ao pensar na minha mãe agora, mais de um ano depois da sua morte, dou muitas vezes por mim às voltas com a frase surpreendente de Auden no seu grandioso poema em memória de Yeats - palavras essas que resumem a pequena imortalidade que a realização artística pode por vezes conferir e que são, simultaneamente, um extraordinário eufemismo para a extinção. Uma vez morto, Yeats, escreve Auden, «tornou-se nos seus admiradores».
(...)
Conheci muitos escritores que se conciliavam com a sua mortalidade, tanto quanto lhes era possível, graças pelo menos à fantasiaa de que a sua obra lhes sobreviveria, assim como aqueles que os amavam e que manteriam viva a memória pelo tempo que a eles lhes restava. A minha mãe era um desses escritores, trabalhando com um olho imaginariamente voltado para a posteridade. Devo acrescentar que - em parte dado o seu irredimível medo da extinção - nada nela, mesmo nos derradeiros dias da sua agonia, revelava a mais ténue ambivalência, a mais ténue aceitação - tal pensamento não só não lhe servia de parca consolação como não era consolação de espécie nenhuma. Ela não queria partir.
(...)
Que mais poderei dizer? Pessoalmente, muita coisa, claro, mas não é a isso que me proponho. Por isso, neste texto, seja-me permitido ser um daqueles admiradores e não um filho (...)" 

David Rieff, in Ao mesmo tempo 

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