14/11/12

mas se eu encontrasse a palavra certa

© Jorge F. Marques |  Vila Nova de Foz Côa, 2012

 

David Grossman: "No início desta entrevista, perguntou-me se este livro [Até ao fim da terra] mudou a minha vida e percebeu como foi difícil, para mim, responder. Agora já posso dizer-lhe que (pausa), depois de Uri cair [morrer], há seis anos, voltei a pegar no livro para o acabar. E fi-lo porque para mim escrever é sempre uma maneira de compreender a minha vida e de exprimir o que eu sinto e como devo agir. Há seis anos, só me restava uma opção: acabar este livro. Tinha de permanecer leal à história, sem a alterar devido ao que acontecera. Havia uma lógica na história - uma lógica no final. E eu já tinha definido o final. Lembro-me de, após a partida do meu filho, eu estar sentado no meu estúdio à procura da palavra certa e, de repente, interpelar-me: "Estás doido? Todo o teu mundo está a ruir, a partir-se, e tu estás à procura de uma palavra?" Depois, percebi que estava certo - é necessário insistir na fiabilidade das palavras. O mundo parecia um erro terrível, mas se eu encontrasse a palavra certa, então encontraria uma coisa certa num mundo que tem sido errado. Insisti em fazer estas pequenas coisas no caos que me rodeava. Senti-me como uma pessoa cuja casa é destruída por um sismo, e que vai até aos destroços e tenta reconstruir a casa, colocando um tijolo sobre outro tijolo, sobre outro tijolo... Para mim, cada palavra era um tijolo. Foi a maneira de eu regressar à vida. Após algumas semanas ou meses, eu já era capaz de fantasiar de novo, de infundir vida, amor e paixão nas minhas personagens. De sentir como elas estavam vivas. Para mim, foi como escolher a vida, a partir da gravidade do desespero e da dor. Esta é a resposta à sua primeira pergunta." in, jornal Público

2 comentários:

  1. Muito, muito bom. Muito, muito obrigada.

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  2. io, o gosto em saber-te AQUI é muitíssimo e nada há a agradecer. Se imaginasses as vezes que decido guardar silêncio... mas depois caio sempre nesta 'tentação de partilhar'.

    Beijinhos,

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