María Zambrano
[1904-1991] |
"O amor transcende sempre, é o agente de toda a
transcendência. Abre o futuro; não o provir, que é o amanhã que se pressupõe
certo, repetição com variações do hoje e réplica do ontem. O futuro essa
abertura sem limite, para outra vida que nos aparece como a vida de verdade. O
futuro que atrai também a História.
Pois ser Homem é estar fixo; é pesar, pesar sobre alguma coisa. O amor consegue uma diminuição, se não um desaparecimento dessa gravidade, que quando ele não existe é sustento da moral, condição dos que vivem moralmente, apenas moralmente.
«Vivo já fora
de mim» dizia Santa Teresa de Ávila. Viver fora de si, por estar mais além de
si mesmo. Viver disposto ao voo, pronto para qualquer partida. É o futuro
inimaginável, o inalcançável futuro dessa promessa de vida verdadeira
que o amor insinua em quem o sente. O futuro que inspira (...). Esse fogo sem
fim que respira no segredo de toda a vida. O que unifica com o voo do seu
transcender a vida e a morte, como simples momentos de um amor que renasce
sempre de si mesmo."
María
Zambrano in, A Metáfora do coração e outros escritos
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