13/03/12

a tua beleza

© Maria | Agosto, 2009



A tua nudez inquieta-me.

Há dias em que a tua nudez
é como um barco subitamente entrado pela barra.
Como um temporal. Ou como
certas palavras ainda não inventadas,
certas posições na guitarra
que o tocador não conhecia.

A tua nudez inquieta-me. Abre o meu corpo
para um lado misterioso e frágil.
Distende o meu corpo. Depois encurta-o e tira-lhe
contorno, peso.
Destrói o meu corpo.
A tua nudez é uma violência
suave, um campo batido pela brisa
no mês de Janeiro quando sobem as flores
pelo ventre da terra fecundada.

Eu desgraço-me, escrevo, faço coisas
com o vocabulário da tua nudez.
Tenho «um pensamento despido»;
maturação; altas combustões.
De mão dada contigo entro por mim dentro

...
E às vezes sucede que a tua nudez é um foguete
que lanço com mão tremente desastrada
para rebentar e encher a minha carne
de transparência.

Sete dias ao longo da semana,
trinta dias enquanto dura um mês
eu ando corajoso e sem disfarce,
ilumindo, certo, harmonioso.
E outras vezes sucede que estou: inquieto.
Frágil.
Violentado.

Para que eu me construa de novo
a tua nudez bascula-me os alicerces.

Fernando Assis Pacheco

2 comentários:

  1. "Foi naquela hora precisa em que vieste
    que os sonhos antigos se reverteram
    aos olhos mergulhados na luz branca
    do mistério anunciado onde jaziam

    e agora são teus os passos que oiço
    nos sonhos novos que em meus dias teço
    e é tua a voz que vem
    acordar o tempo que esperei."
    [Angela Santos]

    Beijo-te,

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  2. "mas desconfio haver de
    amar-te
    até ao fim do mundo" Ruy Belo

    Assim, sempre.
    Beijo-te,

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