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© Alex Kozobolis |
29/08/14
28/08/14
27/08/14
25/08/14
22/08/14
Let's just enjoy the silence.
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David Gordon Green | Prince Avalanche, 2013 |
There's a difference between being lonely and being alone.
20/08/14
19/08/14
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© Francesca Woodman |
"Chorei então um bocado, não por estar exausta, mas porque lágrimas ardentes me saltaram de súbito dos olhos e esborrataram o padrão do papel de parede. Vi Peggie embasbacado a olhar para mim, de boca aberta, e lamentei ter chorado. Passei o punho pelos olhos e avancei para a questão seguinte."
Hilary Mantel, in Abatido - Granta 3
18/08/14
diz o meu nome
Dominique Issermann, 2013
Toca-me onde me dói e verás
uma flor a abrir-se lentamente
sobre a pele, a maravilha nunca
adivinhada de um mistério. Esta
é a tua vez de o desvendares -
paixão é uma palavra demasiado
antiga no meu corpo, já não sei a
última vez, a única vez. Toca-me
por isso devagar, não me lembro
da primavera que fez nascer a
doença sobre a ferida, não sinto
o recorte da cicatriz que o tempo
pousou nela. Agora chama-me ao
teu peito com as mãos, tal como a
chuva chama pelos narcisos sem
cessar, ano após ano; diz o meu
nome com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido
de uma aldeia. Não me adivinhes -
lá, onde me doer, vou recordar-me
Maria do Rosário Pedreira
uma flor a abrir-se lentamente
sobre a pele, a maravilha nunca
adivinhada de um mistério. Esta
é a tua vez de o desvendares -
paixão é uma palavra demasiado
antiga no meu corpo, já não sei a
última vez, a única vez. Toca-me
por isso devagar, não me lembro
da primavera que fez nascer a
doença sobre a ferida, não sinto
o recorte da cicatriz que o tempo
pousou nela. Agora chama-me ao
teu peito com as mãos, tal como a
chuva chama pelos narcisos sem
cessar, ano após ano; diz o meu
nome com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido
de uma aldeia. Não me adivinhes -
lá, onde me doer, vou recordar-me
Maria do Rosário Pedreira
17/08/14
se tu pudesses saber tudo o que eu vejo
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© Fernando | Serra de São Mamede, 2014 |
Deixa-me respirar por muito, muito tempo, o odor dos teus cabelos, mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem sequioso na água duma nascente, e agitá-los com a mão como um lenço perfumado, para sacudir as recordações no ar. Se tu pudesses saber tudo o que eu vejo! tudo o que eu sinto! tudo o que eu ouço nos teus cabelos! Minha alma viaja sobre o perfume como a alma dos outros homens viaja sobre a música.
Charles Baudelaire, in Rosa do Mundo: 2001 poemas para o futuro
15/08/14
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© John Freeman |Tomas & MonicaTranströmer, 2014 |
Olha como me sento
uma barca em terra.
Aqui sou feliz
Tomas Tranströmer
uma barca em terra.
Aqui sou feliz
Tomas Tranströmer
14/08/14
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© Fernando | Largo de São Cristóvão - Lisboa, 2014 |
Tudo o que vês chega de longe: apenas um contorno
ou uma sombra que se desloca devagar. Há gestos
semelhantes a folhas que não caem. Principia agora
a luz a espalhar-se à nossa volta e a verdade torna-se
mais simples. É como um rosto que reconhece a sua idade.
Fernando Guimarães
12/08/14
Foi assim.
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© Dominique Issermann | Nick Cave & Susie Bick |
Tal como ele [Nick Cave] diz, já perto do fim de 20,000 Days: “A primeira vez que vi a Susie foi no Victoria and Albert Museum em Londres. E quando ela entrou, todas as coisas que me deixaram obcecado durante anos, fotografias de estrelas de cinema, a Jenny Agutter no lago, a Anita Ekberg na fonte... os concursos de miss Universo, Marilyn Monroe e Jennifer Jones e Bo Derek... as bailarinas do Bolshoi e as ginastas russas… as miúdas da piscina de Wangaratta deitadas no betão a escaldar... toda a cascata interminável de informação erótica... se juntou naquele momento, num big bang avassalador, e eu fiquei rendido a ela. Foi assim.”
Devíamos fazer isto mais vezes
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© Tiago Figueiredo | Cecília Ferreira Alves, 2014 |
A minha mãe detesta ser fotografada. Ontem combinámos almoçar, ela quis vir a Lisboa ter comigo. Pedi-lhe para subir ao 4º andar para a fotografar e a resposta foi surpreendentemente calma e positiva.
Foi a minha 100ª sessão do Photomaton, não de forma propositada mas apenas porque os astros se alinham sempre para estas coisas acontecerem. Acho que estava eu mais nervoso do que ela. Depois veio cá dentro ver a parede cheia de fotografias do Photomaton, sentou-se para ver o meu novo site – gostou muito – e a seguir descemos para almoçar. E foi muito bom.
Uma das melhores recordações que tenho nossa foi numa noite em que fomos os dois fazer a mudança para uma casa onde viveu, fora de Lisboa, há uns 10 anos. Chovia muito e o vento estava fortíssimo. Caiu um poste de electricidade e toda a aldeia ficou sem luz. Jantámos com velas e passámos a noite a falar. A falar e a ouvir. Devíamos fazer isto mais vezes, mãe.
Tiago Figueiredo, in Retratos Escritos
11/08/14
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Clarice Lispector |
"Um domingo de tarde sozinha em casa dobrei-me em dois para a frente - como em dores de parto - e vi que a menina em mim estava morrendo. Nunca esquecerei esse domingo. Para cicatrizar levou dias. E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heróica. Sem menina dentro de mim."
10/08/14
09/08/14
Tudo o que não vivi, li.
Se estiveres
curiosa acerca do que escrevo, não te posso ser útil, nunca soube falar dos
meus romances. Mas conto-te uma história: há uns anos encontrei num hospital
psiquiátrico um doente que me disse: tudo o que não vivi, li. Confesso que
gostaria muito de ter inventado aquele homem louco e de ter sido eu a criar
aquela frase. Mas o homem louco não é mentira nenhuma. O louco existia mesmo,
dolorosamente em carne e osso, com aquela frase naquela tarde acobreada de
Outono. Tudo o que não vivi, li.
Dulce Maria Cardoso, in Autobiografia - Tudo São Histórias de Amor
08/08/14
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© Bernardo Martins, 2014 |
"Não sei se muitos fizeram essa descoberta - sei que eu
fiz. Também sei que descobrir
a terra é
lugar-comum que há muito se separou do que exprime. Mas todo homem deveria em
algum momento redescobrir a sensação que está sob descobrir a terra."
Clarice Lispector, in A Descoberta do Mundo - crónicas
07/08/14
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© Mark Abrahams| Philip Seymour Hoffman |
"Creio que terei passado, no máximo,
cinco horas na companhia de Philip Seymour Hoffman, vá lá, seis horas. Para
além disso, foi apenas estar juntamente com outras pessoas nas filmagens
de O Homem Mais Procurado, vendo-o nos monitores e dizendo-lhe depois que ele
estava óptimo, ou decidindo que era melhor manter as minhas opiniões para mim
mesmo.
Nem sequer fiz muitas coisas: um par de visitas ao
local das filmagens, uma ridícula aparição como figurante que me obrigou a
deixar crescer uma barba nojenta, demorou todo o dia e acabou por resultar numa
imagem borrada de alguém que fiquei agradecido por não conseguir reconhecer. É
provável que não exista nada mais inútil no mundo do cinema que um escritor da
obra original a cirandar no local de filmagens do seu filme, como aprendi à
minha custa.
(...)
Nenhum outro actor teve em mim o impacto que Philip
teve nesse primeiro encontro comigo: nem Richard Burton, nem Burt Lancaster ou
mesmo Alec Guinness. Philip cumprimentou-me como se estivesse estado toda a sua
vida à espera para me conhecer, o que, suspeito, era a maneira como ele
cumprimentava toda a gente. Mas há muito tempo que eu desejava conhecer
Philip." [continua aqui]
David Cornwell, 2014
06/08/14
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© Bernardo Martins, 2014 |
Frágil, sim, sou frágil, sempre fui extremamente frágil. E pensei que essa fragilidade era uma característica particular que me tornava único e diferente de todos os homens. Era um ser anómalo, pensava, e daí o meu sentimento de inferioridade em relação aos outros, que não o eram, uma vez que encarnavam a norma que eu nunca conseguiria instituir em mim. Só mais tarde, descobri que a anomalia era a norma inerente à condição de todos os homens, sujeitos à contingência, à adversidade, à incerteza radical e à finitude irremediável. Compreendi então que cada homem é um mundo de mundos...
António Ramos Rosa, in A composição dos mundos - Prosas seguidas de diálogos
António Ramos Rosa, in A composição dos mundos - Prosas seguidas de diálogos
05/08/14
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© Teresa Nabais |
Não poderíamos viver no mundo sem a distância interior que nos separa das coisas. Se tudo fosse plenamente presente, não seríamos o que somos e se ainda fôssemos seres humanos estaríamos tão emaranhados na espessura do real que não poderíamos distinguir os seres e as coisas e, como numa densa floresta em que não houvesse caminhos nem intervalos entre as árvores, não poderíamos sequer dar um passo. A separação é inerente à condição humana desde o momento em que o feto é expulso do ventre materno.
António Ramos Rosa, in A infatigável superficialidade da existência - Prosas seguidas de diálogos
04/08/14
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© W. Eugene Smith, 1951 |
"Nunca soube explicar o que senti quando aprendi a ler e a escrever. Era como se tivesse nascido novamente, e com poderes especiais. A mudança não teria sido maior se me tivessem crescido asas ou garras afiadas como as dos bichos da selva."
Dulce Maria Cardoso, in A Biblioteca - Tudo são histórias de amor
02/08/14
© Maria - amanhecer, 2013 |
"Hoje de manhã, quando amanhecer e o sol nascer, irei à praia. Entrarei n'água. É tão bom. Ah, quantas dádivas! Por exemplo, eu ainda estar viva e poder entrar na água do mar. Às vezes, de volta da praia, não tomo chuveiro: deixo o sal ficar na pele, meu pai dizia que era bom para a saúde. Na verdade estou sem doença alguma. Mas doença é coisa imprevisível. Meu pai morreu em plena maturidade: choque operatório. Fiquei perplexa. Mas de algum modo as pessoas são eternas. Quem me lê também."
Clarice Lispector, in A Descoberta do Mundo - crónicas
01/08/14
© Fernando | Bangkok, 2011 |
"A minha mãe sempre me disse que substitutos era coisa que não havia. Tudo é intrinsecamente único e diferente de qualquer outra coisa. Tudo acontece apenas uma vez e a felicidade não se repete."
Hilary Mantel, in Abatido - Granta 3
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