© Ana Hatherly | 25 de Abril de 1974, Lisboa |
"A rua, principalmente a rua. Os milhares e milhares de pessoas que, logo de manhã e, depois, pela tarde dentro, saíram espontaneamente para as ruas e praças. Sem convocatória, sem bandeiras, sem palavras de ordem, sem dísticos: apenas a voz. Aqueles gritos de “Liberdade! Liberdade!”, aquela alegria deslumbrada, de quem não acredita e esfrega os olhos com receio de estar a sonhar. Não havia ainda partidos a dividir-nos, não havia desconfiança, não havia suspeita. Nunca, como nesse dia e nos dias imediatamente a seguir, estivemos tão próximos uns dos outros. A minha cabeça e o meu coração estão, naturalmente, cheios de memórias desses desmesurados tempos."