30/09/13

© Phil Maxwell | Quaker Street & Brick Lane, 1985

"É uma zona de becos, esquinas, luz oblíqua e venerável sujidade que, embora simples, imagino sempre amontoada. Talvez porque se concentra num montículo como se trepasse por uma ladeira acima. Tem qualquer coisa do bairro chinês de São Francisco, do gueto judeu de Corfu, das ruas portuárias de Lisboa. Cheira a roupa húmida e a cozinha oriental. Enough, a minha gata, nasceu ali."

Enric González, in Histórias de Londres

29/09/13

Interpol | Our love to admire, 2007

28/09/13


The Irrepressibles | Always on my mind, 2013

27/09/13

© Saul Leiter


"O amor é de outro reino. (...) Da amizade, do amor, do encontro de duas pessoas que se sentem bem uma ao lado da outra, fazendo amor, falando de amor, trocando amor, conversando de amor, falando de nada, falando de pequenas histórias código de ministros com aventuras de aventuras sem ministros conversa alta e baixa de livros e de quadros de compras e de ninharias conversas trocadas em miúdos ouvindo música sem escutar música que ajuda o amor o amor precisa de ajudas de ir às cavalitas de andas de muita coisa simples amor é um segredo que deve ser alimentado nas horas vagas alimentado nas horas de trabalho nas horas mais isoladas amor é uma ocupação de vinte e quatro horas com dois turnos pela mesma pessoa com desconfianças e descobertas com cegueiras e lumineiras amor de tocar no mais íntimo na beleza de um encanto escondido recôndito (...) com prazer de alegria amor que não se sabe o que vai dar que nunca se sabe o que vai dar amor tão amor."

Ruben A, in Silêncio para 4
Karen Green | Bough Down, 2013


"One of the most beautiful expressions of love and loss you will ever read. Bough Down put me in mind somehow of the Portuguese fado: a lament rendered so precisely it becomes luminous and affirmative. This is a profound, lovely, bitterly funny book that fulfills the first requirement of great art: it is magical."
George Saunders, aqui.

26/09/13

Efterklang | Piramida, 2012


"A matéria da memória é indefinida e insegura e nela, como na matéria da vida (e a vida é provavelmente apenas memória), se confundem acontecimentos e emoções, imagens e conjecturas, cuja origem nem sempre nos é dado com clareza reconhecer e cuja finalidade a maior parte das vezes nos escapa. E, no entanto, é tudo o que temos, a memória." 

Manuel António Pina, in Os papéis de K

25/09/13

"O meu substituto, Juan Jesús Aznárez, entrou no Koweit e testemunhou pessoalmente o que tinha sido tudo aquilo: vários soldados iraquianos fizeram-no parar a meio do deserto e imploraram-lhe que os tomasse como prisioneiros, mas ele não pôde aceitar a rendição porque os soldados não cabiam todos no seu Honda Civic. Enquanto eu lia as excelentes crónicas de Juanje, ainda espantado com a diferença entre a apaixonante realidade virtual criada pela CNN e a miserável realidade real, tomei uma decisão que me pareceu extremamente sensata: a minha mulher, Lola, e eu íamos deixar tudo e instalar-nos perto de Londres, onde teríamos um cão e uma bicicleta e viveríamos do ar.



(...)

Guardo uma velha fotografia de Lola numa das ruas do triângulo, tirada na nossa primeira viagem juntos a Inglaterra. Lembro-me de que, enquanto eu tratava de averiguar onde se encontrava o botãozito da câmara, ela monologava sobre quão feliz seria ali e, como de costume, imaginava já agradáveis rotinas de residente: tomaria café em tal sítio, passearia por uma certa calçada, compraria flores em determinada esquina... Eu, entretanto, exercia o papel pouco comum de cônjuge sensato e, condescendente, abanava a cabeça:
- E viveríamos de quê? Do ar?
A coerência é uma das minhas características."

Enric González, in Histórias de Londres

24/09/13


Estou vivo e escrevo sol




Antóno Ramos Rosa
1924 - 2013






© Bon Iver | For Emma, Forever Ago: The Wolves (Act I & II), 2008

 © Derek Cianfrance | The place beyond the pines, 2012



23/09/13



Aqui mereço-te




Antóno Ramos Rosa
1924 - 2013






"Leitor, é tempo de a tua agitada navegação encontrar um cais. Que porto pode acolher-te com mais segurança do que uma grande biblioteca? Há certamente uma na cidade de onde partiste e onde regressaste depois da tua volta ao mundo, de um livro a outro." 

Italo Calvino, in Se numa noite de inverno um viajante


© Patricia Almeida | Rui Catalão: Dentro das Palavras

20/09/13

 © Woody Allen | Cate Blanchett: Blue Jasmine, 2013


"Se calhar imaginei tudo e não comecei ainda a viver.
Provavelmente nada disto tem muita importância."

Rosa Oliveira, in Cinza

19/09/13

 © Martin Munkácsi 

"não se pode recomeçar a vida; esta viagem de sentido único, uma vez terminada, não pode ser reiniciada, mas se se tiver um livro na mão, mesmo que seja um livro confuso e misterioso, podemos lê-lo, terminá-lo e, depois, podemos recomeçá-lo desde o início, se quisermos, podemos relê-lo, para compreendermos o que é incompreensível, para percebermos a vida..."

Orhan Pamuk, in A casa do silêncio

18/09/13

© Steven Meisel

...
afinal a vida é relatável
é preciso é perder o medo de contar
o que se passa entre portas
onde se passa tudo o que deveras importa
e nalguns casos é só o que existe
pois a maioria dos humanos
teve só vida e pouca obra
mas ter vida é uma imensidão de possibilidades
narradas ou não
...

Rosa Oliveira, in Cinza

17/09/13

© Taylor Deupree

mais
Vidro Azul
para 
ouvir

Aldina Duarte

© Rita Carmo, 2013

"Delicadeza, mistério, intimidade e privacidade são a minha moldura de estimação..."

Aldina Duarte, in A porta estreita

16/09/13

"Estás prestes a começar a ler o novo romance Se numa noite de Inverno um viajante de Italo Calvino. Descontrai-te. Afasta de ti todos os outros pensamentos. Deixa que o mundo que te rodeia se esfume até se tornar indistinto. A porta é melhor que a feches; a televisão está sempre ligada. Di-lo já, aos outros: «Não, não quero ver televisão!» Levanta a voz, se não te ouvem: «Estou a ler! Não quero ser incomodado!» Talvez te tenham ouvido, com todo aquele barulho; fala mais alto, grita: «Estou a começar a ler o novo romance de Italo Calvino!» Ou então se não queres dizer não digas; esperemos que te deixem em paz.
Toma a posição mais cómoda: sentado, estendido, enroscado, deitado. Deitado de costas, de lado, de barriga para baixo. Na poltrona, no divã, na cadeira de baloiço, na espreguiçadeira, no pouf. Na maca, se tiveres uma maca. Podes também pôr-te de cabeça para baixo, em posição yoga. Com o livro ao contrário, naturalmente."  

Italo Calvino, in Se numa noite de inverno um viajante


© Sun Arrenu

10/09/13

Longas manhãs te esperei, perdi a conta. Ainda bem que esperei longas manhãs e lhes perdi a conta...

© Martine Franck, 1976


"um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida."

Fernando Assis Pacheco

09/09/13

é isso que é o amor.

Roger Scruton: "Quanto a consolações quotidianas, posso dar-vos alguns exemplos. A minha consolação principal é a minha mulher, que é o meu primeiro e principal objecto de afecto na minha vida. Ela mudou a minha vida. (...) Só recentemente tive o conforto de usufruir essa alegria noutra pessoa. (...) Já tinha sido casado mas não retirava daí consolação. Mas agora retiro. (...) Muitos aspectos, mas o mais importante talvez seja ela ser mais importante do que eu e os sentimentos dela me dizerem constantemente respeito. E isso, é claro, é uma coisa que dá grande consolação, pois significa que temos uma razão, no meio de toda a nossa experiência, temos uma razão para dizer, «deixa de pensar em ti mesmo», não é isso que é importante. 

Wim Kayzer: Por que é que ela é mais importante? 

Roger Scruton: É isso que é o amor. Não há nenhuma resposta clara para isso. Quando se reconhece que há alguém mais importante que nós, decidimos, se pudermos, ligar as duas vidas uma à outra. (...) Há um ponto em que a razão expira, em que as opções deixam de ser racionais. Devemos usar a razão, mas não para além do ponto em que ela perde o sentido. E claro, um casamento ou uma relação entre pessoas, obriga-nos a pensar muitas coisas. Mas chega a altura em que todas as razões pró e contra se esgotaram e só nessa altura nos rendemos à vida e ela se torna uma coisa de suprema importância, mas é a vida de um ser consciente de si próprio, não apenas um animal. (...) Ter este sentimento para com outra pessoa e estarem ambos preparados para isto, já é automaticamente viver acima dessa rotina quotidiana, sair dela e experimentar algo sublime.", in O Belo e a Consolação


07/09/13

Marco Martins | Two Maybe More, 2013

“Quantos músculos são necessários mover para que chames, a isto que eu faço, dança?”

Gonçalo M. Tavares

06/09/13

© André Kertesz, 1963

"O meu maior medo é que a morte seja tudo às escuras sem se poder ler. Pouco interessa deixar de ser humano, desde que não deixe de ser leitor. Ler é do mais feliz que tenho. Até porque escrever é triste." Manuel S. Fonseca

05/09/13

© Bernardo Martins, 2013

"tento encontrar quase sempre alguma espécie de discurso na fotografia, mas quase nunca chego a lado algum"

04/09/13

O Belo e a Consolação | Yehudi Menuhin, 1999


Yehudi Menuhin: "Confesso que não tenho grande paciência para recordações, locais de recordações que são explorados por religiões, como os lugares sagrados de Jerusalém, em que as diferentes fés lutam por cada centímetro cúbico de chão sagrado cobrando de acordo com isso e... Para mim isso amesquinha a religião. Mesmo quando vi os monumentos in memoriam, judaicos e católicos, e por aí fora..., senti que era um crime contra a humanidade, uma ferida. E gostaria de incluir todos os crimes que agora ocorrem em nome de qualquer religião do mundo. E ver isso açambarcado por uma religião em particular, que procura reivindicar mártires... Não sei, poderá ser uma reacção muito pessoal e subjectiva, mas não gosto de ver bandeiras desfraldadas sobre um território. Nem bandeiras religiosas. Gostava era de ver essa memória aplicada em medidas preventivas para o futuro. Educação, mostrar às pessoas aquilo de que a natureza humana é capaz. Não uma bandeira erguida a dizer «sofremos», mas no ar a pergunta: «Como evitar que aconteçam abominações destas? Até que ponto somos responsáveis por elas?» Porque cada pessoa é, até certo ponto, responsável. Toda a gente. Nem que a responsabilidade seja infinitésima. E até todos admitirmos que, em certas circunstâncias, todos somos capazes de agir de forma terrível e nos pormos em guarda contra nós mesmos, sabermos que o que nos pode salvar, e evitarmos que aconteça." 

02/09/13

Patricio Guzmán | Nostalgia de la luz, 2010

"Aqueles que têm memória são capazes de viver no frágil momento presente."