26/02/15

© Vivian Maier

"gosto da forma como te olhas no espelho, como um médico inclinado sobre o paciente, sem nenhuma ansiedade mas uma sombra aflorando na expressão, a descoberta sempre de algo que virá a ser grave, aplicas o creme, apertas os lábios, cumprimentas os sinais e adivinhas-lhes ecos, essa metamorfose ridícula, só tu sabes como estás velha, mais bela do que nunca, paciente, é a tua vez de jogar, sentas a morte e até já lhe contas histórias, doseias a luz, serves o chá, fazes algumas sugestões, tens essa tua lista delicada, uma gente que está claramente a mais, gosto da forma como bailas nestes pequenos rituais, como se cada gesto se dependurasse de uma nota soando perfeitamente, caindo na seguinte, fazes-me acreditar que muito depende disto, que o dia não começa nem acaba sem que te assomes ao espelho e lhe ofereças algumas coordenadas"

Diogo Vaz Pinto, in O Melhor Amigo

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