Chopin | Estudo em sol bemol maior, Op 25, nº 9
"Um dia, em conversa com alguns colegas da orquestra que em tom ligeiro falavam sobre a possibilidade da composição de retratos musicais, retratos autênticos (...) lembrou-se de dizer que o seu retrato, no caso de existir de facto uma música, não o encontrariam em nenhuma composição para violoncelo, mas num brevíssimo estudo de Chopin, opus vinte e cinco, número nove, em sol bemol maior. Quiseram saber porquê e ele respondeu que não conseguia ver-se a si mesmo em nada mais que tivesse sido escrito numa pauta e que essa lhe parecia ser a melhor das razões. E que em cinquenta e oito segundos Chopin havia dito tudo quanto se poderia dizer a respeito de uma pessoa a quem não podia ter conhecido. Durante alguns dias, como amável divertimento, os mais graciosos chamaram-lhe cinquenta e oito segundos (...)."
José Saramago in, As intermitências da morte
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