"E a ideia de ausência de perturbação recorda-me novamente a minha leitura de viagem, o fascículo cor de laranja que, apenas parte de um todo extenso, repousa ao meu lado.
Leitura de viagem - uma designação genérica repleta de conotações de inferioridade. Encontra-se largamente divulgada a opinião de que o que se lê em viagens tem de ser do mais leve e superficial, balelas que ajudam a «passar o tempo». Eu nunca entendi semelhante atitude. É que, à parte o facto de a chamada literatura de entretenimento ser sem dúvida a mais aborrecida do mundo, não consigo descortinar por que motivo uma pessoa, logo numa ocasião solene e séria como a que representa uma viagem, deverá descer abaixo dos seus hábitos intelectuais e passar a satisfazer-se com futilidades. Será que a situação de vida enlevada e tensa das viagens provoca um estado de alma e de nervos em que as futilidades causam menos repulsa que a habitual?"
Thomas Mann in, Viagem Marítima com Dom Quixote |
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