© J.B. | Solitary tree at the theatre of Dodoni, Epirus, Greece, 2011
"Acordámos cedo e alugámos um carro para ir a Epidauro. O dia começou com uma paz sublime. Era a primeira vez que vislumbrava realmente o Peloponesco. E não era bem um vislumbre, mas uma ampla perspectiva que se abria para um mundo silencioso e pacífico, um mundo semelhante ao que o homem herdará um dia quando deixar de se entregar ao homícidio e à rapinagem. (...) É pura perfeição, como a música de Mozart. Atrevo-me até a dizer que há mais de Mozart aqui do que em qualquer outro lugar do mundo. A estrada para Epidauro é como a estrada da criação. Deixa-se procurar. Calamo-nos, emudecidos pela quietude dos princípios misteriosos. Se pudéssemos falar, seríamos melodiosos. Aqui nada há que se possa colher, entesourar ou acumular: há apenas um derrubar das muralhas que aprisionam o espírito."
Henry Miller in, O colosso de Maroussi
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Durmo e acordo neste tempo que nos pertence.
ResponderEliminarBeijo-te,
"Ela se bifurca subitamente em naufrágio e salvação,
ResponderEliminarem resgate e promessa, no que foi e no que será.
No centro do seu corpo irrompe um precipício
de duas bordas que se tornam estranhas uma à outra.
Sobre uma das bordas, a morte, sobre outra, a vida.
Aqui o desespero, ali a coragem.
Se há balança, nenhum prato pesa mais que o outro.
Se há justiça, ei-la aqui.
Morrer apenas o estritamente necessário, sem ultrapassar a medida.
Renascer o tanto preciso a partir do resto que se preservou.
Nós também sabemos nos dividir, é verdade.
Mas apenas em corpo e sussurros partidos.
Em corpo e poesia.
Aqui a garganta, do outro lado, o riso,
leve, logo abafado.
Aqui o coração pesado, ali o Não Morrer Demais,
três pequenas palavras que são as três plumas de um vôo.
O abismo não nos divide.
O abismo nos cerca."
WISLAWA SZYMBORSKA
Beijo-te,