04/04/12

o infinitesimal do infinitamente pequeno


© Eikoh Hosoe


"Em vez de lhes contar como escrevi o que escrevi, seria mais interessante falar dos problemas que ainda não resolvi, que não sei como hei-de resolver e o que me levarão a escrever... Ás vezes tento concentrar-me na história que desejaria escrever e vejo que o que me interessa é outra coisa, ou seja, não uma coisa precisa mas tudo o que fica excluído do que eu deveria escrever; a relação entre esse argumento determinado e todas as suas possíveis variáveis e alternativas, todos os acontecimentos que o tempo e o espaço podem conter. É uma obsessão devoradora, destrutiva, que chega para me bloquear. Para combater tento limitar o campo do que devo dizer, e depois dividi-lo em campos ainda mais limitados, e depois subdividi-los de novo, e assim por diante. E então sou tomado por outra vertigem, a do pormenor do pormenor do pormenor, sou sugado pelo infinitesimal, do infinitamente pequeno, tal como antes me dispersava no infinitamente vasto."

Italo Calvino in, seis propostas para o próximo milénio
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

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