22/05/13

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"Na infância já é possível entrever quem, de entre os alunos de uma turma, se afigura mais criativo, seja pelos desenhos que se distinguem dos que são clássicos entre crianças, seja através de redacções imaginativas, tiradas intempestivas ou até perguntas formuladas do avesso. Uma amiga enviou-me há uns tempos por e-mail um conjunto de definições que um grupo de crianças avançou – e é, de facto, notável como já é possível, por ali, encontrar uma veia poética ou uma bela dose de criatividade. Para mim, a melhor era de longe a definição de «rede»: «Uma porção de buracos amarrados por um cordel.» Mas também me deliciei quando um rapazinho disse que um relâmpago era «um barulho rabiscando o céu» e outro classificou o calcanhar como «o queixo do pé». À pergunta «O que é um palhaço?», uma menina respondeu que era «um homem todo pintado de piadas». Outra definiu vento como «ar cheio de pressa». No campo dos animais, uma criança disse que cobra era «um bicho que só tinha rabo» e, com imensa propriedade, outra avançou que uma avestruz era «a girafa dos passarinhos». Enfim, vamos ver se, daqui por uns anitos, mantêm a inventividade ou se deixam estragar pelo caminho... Pode ser que algum deles se torne um original escritor."

Maria do Rosário Pedreira, in Horas extraordinárias

2 comentários:

  1. Menina de capuz vermelho, sente-se bem, toma banho nua, apanha lenha, aproveita a infância, come, rouba maçãs verdes, cogumelos, alucina, corre nua, deita-se.

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    1. Quando a criança era uma criança
      era a época destas perguntas:
      Por que eu sou eu e não tu?
      Por que estou aqui, e por que não lá?
      Quando foi que o tempo
      começou, e onde é que o espaço termina?
      Um lugar na vida sob o sol não é apenas um sonho?
      Aquilo que eu vejo e ouço e cheiro
      não é só a aparência de um mundo diante de um mundo?

      Peter Handke

      Beijo,

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