22/03/13

© Nicoletta Branco


- E o alarido feito em volta do seu livro Canções? Agradou-lhe?
- Não sei.
- Disseram muita coisa...
- Sim, chamaram-me tudo - revolucionário, dissolvente perigoso, demolidor da moral, e outros palavrões sonoros que me causam tonturas... E, afinal, nunca se fala do que se sabe; falam sempre do que pensam. Quando alguém só por suposições afirma qualquer coisa má de nós, é porque tem a consciência de que, posto no mesmo caso, nele seria uma verdade o que em nós é aparência. Ah, se a nova geração, se os meus contemporâneos, soubessem ler com inteligência e  com minúcia as minhas canções de Renascença, receberiam grandes ensinamentos de beleza e muita coragem, creia!...
...
- E qual é o seu programa de arte?
- O meu programa de arte tracei-o firmemente, mas, por enquanto, não digo; não quero assustar ou desorientar os meus contemporâneos... Dir-lhe-ei apenas que tenho a paixão da beleza..."

in Uma entrevista com António Botto*

* é provável que esta entrevista tenha sido redigida, para além de dactilografada, por Fernando Pessoa

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