18/12/12

nele está o mundo

© Joana Dilão | Cão Solteiro e Vasco Araújo: A Africana, 2012


"B: Estamos separados por um abismo. É um facto trágico. E eu já não te estou a ouvir. É outro facto trágico. Estás tão longe que eu nem te oiço. Nem te vejo. Nem tu a mim. Já morri. Arranquei o coração. Engoli-o. Arranquei-o outra vez. E voltei a engoli-lo. E arranquei-o outra vez. E mastiguei-o e voltei a engoli-lo. E arranquei-o outra vez. E engoli-o. E arranquei-o outra vez. Sou uma mulher a fazer de um homem a fazer de uma estrangeira a fazer de um preto a fazer de um velho a fazer de um cão a fazer de uma branca a fazer de um gato a fazer de uma árvore a fazer de uma caneta a fazer de um elefante a fazer de um braço a fazer de uma mesa a fazer de uma cama a fazer de uma ilha. Gastar todas as palavras. Estou a tentar apagar o discurso. Gastei todas as palavras. Consegui calá-las. Não sei justificar porque  faço. Mas sei o que faço. Tenho um coração mastigado nas mãos. Fim. Vou morrer. Eu, obscura. É a minha tragédia.


A: Tenho um coração mastigado na minha mão. Nele está o mundo. E eu engulo. Tudo desapareceu. Sou só eu. E eu sou ridículo."


José Vieira Mendes a partir da ópera A Africana de Giacomo Meyerbeer


Direcção Musical: Nicholas McNair | Coro Gulbenkian | Co-produção: Cão Solteiro, Maria Matos Teatro Municipal e Fundação Calouste Gulbenkian

3 comentários:

  1. Respostas
    1. E... «o meu nome é Glup»!

      Foi mesmo bom ver & ouvir mais uma obra do Cão Solteiro e confirmar que continua a ser tão desafiador quanto criativo.
      Obrigada, pxbecko.

      Beijinhos,

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  2. O meu nome é o teu.
    O meu nome é o dos meus amigos.

    Obrigado, Mr. Pxbecko.
    Beijos e abraços,
    O meu nome é.

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