04/10/12

'vivo já fora de mim'


María Zambrano
[1904-1991]



"O amor transcende sempre, é o agente de toda a transcendência. Abre o futuro; não o provir, que é o amanhã que se pressupõe certo, repetição com variações do hoje e réplica do ontem. O futuro essa abertura sem limite, para outra vida que nos aparece como a vida de verdade. O futuro que atrai também a História.

Pois ser Homem é estar fixo; é pesar, pesar sobre alguma coisa. O amor consegue uma diminuição, se não um desaparecimento dessa gravidade, que quando ele não existe é sustento da moral, condição dos que vivem moralmente, apenas moralmente.

«Vivo já fora de mim» dizia Santa Teresa de Ávila. Viver fora de si, por estar mais além de si mesmo. Viver disposto ao voo, pronto para qualquer partida. É o futuro inimaginável, o inalcançável futuro dessa promessa de vida verdadeira que o amor insinua em quem o sente. O futuro que inspira (...). Esse fogo sem fim que respira no segredo de toda a vida. O que unifica com o voo do seu transcender a vida e a morte, como simples momentos de um amor que renasce sempre de si mesmo." 

María Zambrano in, A Metáfora do coração e outros escritos

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