22/03/12

a força das coisas

 © Didier Ruef | Zuerich, 1988

"Começo por contar uma velha lenda.
O imperador Calos Magno em idade avançada apaixonou-se por uma rapariga alemã. Os barões da corte estavam muito preocuppados, ao ver que o soberano, tomado pela fúria amorosa e esquecido da dignidade real, descurava os negócios do Império. Quando de repente a rapariga morreu, os dignatários respiraram aliviados, mas por pouco tempo: porque o amor de Carlos Magno não morreu com ela. O imperador, mandando levar o cadáver embalsamado para o seu quarto, não queria afastar-se dele. O arcebispo Turpino, aterrado com esta macabra paixão, suspeitou de um encantamento e quis examinar o cadáver. Escondido debaixo da língua morta, achou um anel com uma pedra preciosa. Assim que o anel foi parar às mãos de Turpino, Carlos Magno apressou-se a mandar sepultar o cadáver, e transferiu o seu amor para a pessoa do arcebispo. Turpino, para fugir a esta situação embaraçosa, lançou o anel ao lago de Constança. Carlos Magno apaixonou-se pelo lago e nunca mais quis afastar-se das suas margens."

Italo Calvino in, seis propostas para o próximo milénio
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

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