18/03/12

da sensibilidade das coisas

Perseus & Medusa | Trentham Gardens

"Perseu venceu uma nova batalha, massacrou à espadeirada um monstro marinho, libertou Andrómeda. E agora dispõe-se a fazer o que qualquer um de nós faria após uma façanha deste género: vai lavar as mãos. Neste caso o seu problema é onde colocar a cabeça de Medusa. E aqui Ovídio tem versos (IV, 740-752) que considero extraordinários para exprimir a delicadeza de alma que é necessária para se poder ser um Perseu, vencedor de monstros:

«Para que a rija areia não desgaste a cabeça anguícoma, amolece o terreno com uma camada de folhas, estende sobre esta algas nascidas debaixo das águas e aí depõe a cabeça de Medusa de cara para baixo».

Parece-me que não se poderia representar melhor a leveza de que Perseu é o herói, do que com este gesto de refrescante gentileza para com aquele ser monstruoso e tremendo, mas também de certo modo frágil e deteriorável."

Italo Calvino in, seis propostas para o próximo milénio
[Charles Eliot Norton Poetry Lectures]

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