© Carlos Saura - Luís Buñuel,Toledo |
"A lenda do Grego começou assim com o romantismo modernista do início do século XX: o artista era um antecessor longínquo da pintura moderna ou um lunático, um místico sem paralelo no seu tempo ou um doente com problemas de visão. Ainda por cima vivera a maior parte da sua vida em Toledo, e esta cidade excitava a fértil imaginação dos europeus do Norte e dos próprios espanhóis, a cidade romana, visigoda, muçulmana, moçárabe, hebraica, cheia de fantasmas, subterrâneos escondidos, vozes que sussurram na noite. Escreveram-se literalmente dezenas de novelas e romances populares, muitos deles vindos de escritores americanos, quase todos lidando com o oculto.
(...)
Mas a história mais espantosa do triunfo romântico e modernista de Toledo sucedeu nos anos de 1920. Escreveu o futuro realizador Luis Buñuel em Março de 1923: “Passeava pelo claustro da catedral [de Toledo] completamente bêbado, quando, de repente, ouço cantar milhares de pássaros e sinto que devo entrar imediatamente na igreja dos Carmelitas, não para me fazer frade mas para roubar a caixa do convento. Vou até lá, o porteiro abre-me a porta e vem um frade. Falo-lhe do meu súbito e fervente desejo de me tornar carmelita. Ele, que sem dúvida deu pelo cheiro a vinho, acompanhou-me à saída. No dia seguinte tomei a decisão de fundar a Ordem de Toledo.”
E se bem o disse, melhor o fez: com alguns amigos, criou uma Ordem surrealista e esotérica que tinha estatutos muito simples: “Vaguear à noite por Toledo completamente bêbado. Nunca tomar banho quando se estiver em Toledo. Ir lá pelo menos uma vez por ano. Amar Toledo acima de todas as coisas…" continua aqui.
Paulo Varela Gomes, in O Grego extravagante, 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário