08/02/13

© Stephen Shore


"O tempo é a dádiva da eternidade. Se nos fosse dado todo o ser... O ser é mais do que o universo, mais que o mundo. Se nos mostrassem o ser de uma só vez, ficaríamos aniquilados, anulados, mortos. Em contrapartida, o tempo é a dádiva da eternidade. A eternidade permite-nos realizar todas essa experiências de um modo sucessivo. Temos dias e noites, horas e minutos; temos a memória, temos as sensações actuais e logo temos o provir, um porvir de que ignoramos a forma mas que pressentimos ou tememos.

Tudo isso nos é dado sucessivamente porque não poderíamos aguentar essa intolerável carga, essa intolerável descarga de todo o ser do universo. O tempo seria, assim um dom da eternidade. A eternidade permite que vivamos sucessivamente. (...) felizmente para nós, a nossa vida está dividida em dias e em noites, a nossa vida é interrompida pelo sono. Erguemo-nos de manhã, vivemos o nosso dia e depois adormecemos. Se o sono não existisse, seria intolerável viver, não seríamos donos dos nossos prazeres. A totalidade do ser é para nós impossível. Assim, é-nos dado tudo, mas gradualmente." 


Jorge Luís Borges, in Borges Oral - edição Vega, 1994

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