17/01/13

© André Kertesz, 1963

"Um dos mais misteriosos de todos os imponderáveis da vida é aquilo que designamos por «influências». Não há dúvida de que estas estão sujeitas à lei da atracção. Mas devemos ter em conta que, quando somos atraídos numa determinada direcção, é também porque fizemos força nesse sentido, talvez sem o saber. É óbvio que não estamos à mercê de toda e qualquer influência. Tão-pouco temos sempre conhecimento das forças e dos factores que nos influenciam num período ou noutro. Alguns homens nunca chegam a saber quem são, nem o que motiva o seu comportamento. A maioria dos homens, aliás. Para outros, o sentido do destino é tão claro, tão forte, que parece não haver qualquer outra alternativa: criam as influências de que necessitam a fim de concretizar os seus objectivos. (...) A razão que me levou a introduzir um elemento tão absurdo é que, no que respeita a livros, tal como acontece com os amigos, os amantes, as aventuras e as descobertas, tudo está inextricavelmente misturado. É frequente o desejo de ler um livro ser suscitado pelo incidente mais inesperado. Para começar, todas as coisas que nos acontecem estão interligadas. (...)
Como estava a dizer, a referência fortuita de um amigo, um encontro inesperado, uma nota de rodapé, uma doença, a solidão, estranhas subtilezas da memória, mil e uma coisas podem despertar a nossa curiosidade por um livro. Há momentos em que estamos susceptíveis a todo o tipo de sugestões, palpites e insinuações. E há outros em que é preciso dinamite para nos pôr em movimento." 

Henry Miller, in Os livros da minha vida

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