24/11/12

essa coisa é que é a verdadeira

© Brillante Mendoza | Lola, 2009

"Provavelmente está tudo dito. Mesmo o sentimento da ociosidade e da inutilidade das palavras é uma sensação infinitamente cansada. E, no entanto, temos que dizer tudo de novo todos os dias, de juntar os pedaços dispersos do mundo e, com eles, descobrir para nós um lugar do nosso tamanho ou, ao menos, uma forma de sentido para aquilo que chamamos vida. E, para isso, tudo o que temos são palavras. O que sabemos: palavras; o que sonhamos: palavras; o que sentimos: palavras; e a nossa própria boca que fala é, também ela, só uma frágil e insegura palavra.
(...)
Está então o cronista diante do mundo e de si próprio. E só pode repetir (na melhor das hipóteses por outras palavras...) aquilo que cada homem imemorialmente repete: o amor e a morte, o medo e a esperança, a alegria e a decepção.
(...)
Também a crónica falará, a partir de hoje, de gente, de factos, de acontecimentos, mas o que dirá é outra coisa. E essa coisa é que é a verdadeira."

Manuel Antonio Pina in, Por outras palavras

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