© Jean-Luc Godard | Le Mépris, 1963 Casa Malaparte, Itália | Arq. Adalberto Libera, 1937
diante do mar
antevejo as planícies místicas de outubro, quando o vento trás o travo das gaivotas à boca semeada das papoilas da primavera
é verdade, há um caminho secreto que conduz, através dos verdes campos de maio, à casa que, regada do incêndio do verão mostra em outubro que, depois da bucólica infância das imagens, vem sempre o espaço do poema:
o olhar que distende o movimento da mão conduz à casa a casa a casa a casa a conciliação dos trabalhos da mão com o perfume do silêncio
então, antevejo: o poema é a mão que corrige o olho, que antecipa a eternidade
sou o caminho dessa mão que antevê o cálculo do marinheiro que manobra o astrolábio da canção
essa mão é todo o corpo do poema
a mão que distende o travo das manhãs pela paisagem e mantém sempre todo o silêncio junto ao peito,
a mão que escreve as marés as marés as marés e trás a lua a lua a lua para o olho, e trás a lua condenada pela carne e pelo sal à degustação das parábolas
entretanto, o gosto progride, como um segredo
a mão promove uma lenta infância que se alarga, um caminho através do poema, que não teme a derrocada das casas, que promove o anseio salubre que as planícies infundem no rosto da criança adormecida
sabe-se que diante do mar, todos os caminhos levam ao silêncio
Luís Felício
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