11/05/12

é que, às vezes, esquecemo-nos

Jean-Luc Godard | Pierrot le fou, 1965

Meu Caro Fernando e Poeta,

"Li ontem à noite e hoje de manhãzinha, de um fôlego, a sua lira. Deu-me um prazer imenso, intenso – mas não tenso, penso –, um prazer gozado como aquele que dá uma gostosa, luminosa e instrutiva conversa.
E a poesia, se não for sobretudo isso (uma conversa) – lembrava-o o Eliot, veja lá! – não chega bem a ser coisa nenhuma. Você fala de quase tudo quanto, na vida, é importante e fala, tornando-o, para nós, também importante. É que, às vezes, esquecemo-nos, e é ao poeta que compete reacender-nos a lembrança.
Por outro lado, V. torna-nos, sem violência, de masinho, habitantes da sua paróquia de assombros, amores, guerra, paz, aprendizagens, revelações, desapontamentos, medos, premonições e amizades (fiz-me assim amigo do falecido padre seu amigo, com quem V. falava de poesia). V. gosta da língua, das palavras (e da malícia que elas têm), mas gosta ainda mais daquilo para que elas servem."

Eugénio Lisboa, JL, 17.9.91

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